Cozinha nas trilhas: vez dos fogareiros e utensílios


Modelo XGK EX - quinta geração da fabricante
estadunidense  MSA (Mountain Safety Research): 
O tempo em que o improviso dominava as 'cozinhas' nas trilhas parece ter ficado para trás. Fogueiras e fogões arcaicos; ou uso de latas para cozinhar está ultrapassado.

Não que o improviso seja um mal em si. Ocorre que hoje há equipamentos adequados que facilitam as nossas vidas.

Se empregados corretamente possibilitarão que nos dediquem mais à atividade fim, que é trilhar, trilhar, trilhar...

Mas qual tipo ou modelo desses equipamentos são os mais indicados? Nesse post procuraremos responder a isto de modo simples e direto!

Fogareiros


Existem dois tipos básicos:

1 ► Fogareiros a combustível líquido: 
Utilizam combustíveis diversos, como gasolina, benzina, querosene e em alguns modelos pode-se usar até diesel.

As vantagens principais são a constância e força da chama, que possibilita cozinhar em poucos minutos; além da durabilidade do equipamento.

Como desvantagem está na necessidade do transporte do combustível, que não possui bom cheiro e normalmente provocam sujeiras e resíduos; além do manuseio do equipamento.

Esses fogareiros podem ser utilizados em praticamente qualquer lugar do mundo; quente ou frio; com ou sem vento. Entretanto, em altas altitudes acima da faixa dos 6.000m seu desempenho pode ser reduzido, pois há pouco oxigênio na atmosfera, prejudicando a chama.

Modelo Pocket Rocket da MSR, a gás. Fonte: MSR
2 ► Fogareiros a gás:
Apresentados em vários modelos, utilizam o propano e butano já envazados em pequenos botijões.

As vantagens principais são a facilidade no manuseio, pois o acendimento é rápido e/ou automático; além de não provocar grandes sujeiras em equipamentos.

Como desvantagem está na dificuldade de se encontrar o combustível a gás em lugares mais distantes; além da fragilidade da chama.

Esses fogareiros oferecem melhor desempenho em ambientes com temperaturas mais agradáveis e em locais com pouco vento, como o Brasil. Apesar de funcionar relativamente bem em altas altitudes, temperaturas extremas podem esfriar a mistura combustível e o vento pode até apagar a chama, pois esta não é vigorosa como a dos fogareiros a combustível líquido.

Então, qual modelo comprar?


Se o objetivo é trilhar pelo Brasil ou regiões similares, um fogareiro a gás é o ideal. São mais leves, compactos e práticos.

Mas não será necessário vender um rim e adquirir um robusto fogareiro a gás; ou buscar marcas de "grife"! Podemos inclusive usar esses modelos "genéricos", praticamente um "pocket" que utilizam cartuchos de gás rosqueáveis; e que são facilmente encontrados no mercado, com valores acessíveis.

Se o objetivo é trilhar por lugares mais exigentes, como a Patagônia, lugar de muito vento, não podemos abrir mão do fogareiro a combustível líquido; pois será mais fácil encontrar combustível por lá. Veja bem, o querosene pode ser encontrado em praticamente qualquer lugar do mundo!

► Atenção: se for pra Alta Montanha, não se preocupe com isto! Certamente o chefe da sua expedição terá os dois tipos, certamente das marcas e modelos mais robustos!!! Além disso, terá panelas com radiadores que potencializam as calorias; ou pelo menos saberá fabricar/improvisar algo similar... Alta Montanha normalmente não é lugar para atividades solo, a não ser que sejas especialista no ramo... 

Utensílios & Vasilhames


Nesse quesito vale a criatividade do aventureiro. Muito embora o mercado ofereça utensílios fabricados em diversos materiais, na prática isto fará muito pouca diferença. Só vale uma regra: só carregar panelas, talheres, pratos e copos que sejam indispensáveis.

Devemos transportar o estritamente necessário e não uma cozinha gourmet. Se a panela é de alumínio; anti-aderente ou de titânio; se os talheres são flexíveis, levíssimos e "projetados pela NASA"; cabe ao usuário avaliar o custo benefício desses equipamentos.

Sugerimos transportar uma ou duas panelas de tamanho médio (1 litro mais ou menos); uma colher; uma faca pequena ou canivete; uma colher de chá de cabo longo e um copo plástico de aproximadamente 200 ml.

Levar também um prato, que deve ser de plástico. Se uma das panelas tiver tampa, prato é dispensável! E providenciar um pegador de panelas, pra não queimar a mão.

Pronto, certamente não precisaremos de mais que isto. Nada de panela de pressão; caçarolas imensas; cafeteiras ou algo similar! Além disso, atente-se para o peso: quanto mais leve for o vasilhame, melhor!

Para transportar alimentos, nada de vasilhame. Utilize sacos plásticos ou pequenas embalagens reutilizáveis. Para limpar vasilhames utilize pequenos panos tipo perfex ou guardanapos de papel. Se precisar usar sabão, prefira sabão de coco: leve um pedaço apenas, pois apresenta bom rendimento!

Considerações Finais


► Fique atento ao adquirir um fogareiro a gás. Observe e prefira os rosqueáveis, pois há alguns modelos que se conectam ao botijão através de furos; que não permitem reutilizar o gás ou desenroscar o fogareiro. Isto pode provocar perda e desperdício de combustível. 

► Cuidado ao transportar combustíveis líquidos. Requer cuidados especiais; inclusive evite transportá-los em embalagens plásticas comuns, pois alguns combustíveis corroem ou derretem plásticos, se misturando com o material derretido; e com isso podem danificar o fogareiro. Somente transportar em garrafa plástica se tiver certeza de que o combustível não provocará a sua corrosão! Nesses casos, para evitar dor de cabeça, prefira as embalagens metálicas específicas para esta função. Inclusive algumas são rosqueáveis e adaptam à mangueira do fogareiro. 

► Fogareiro a combustível líquido requer limpezas periódicas. Mas somente faça a limpeza se conhecer o equipamento, do contrário poderá danificá-lo. Siga as instruções de cada fabricante. 

► Alguns combustíveis líquidos possuem elevada carga de chumbo. Na maioria das vezes isto é prejudicial à vida útil do fogareiro. Se usar gasolina, prefira a gasolina branca. 

► Nem abordamos por aqui a velha e conhecida espiriteira. Ainda amada por muitos montanhistas, trata-se de um fogareiro primitivo, que funciona com álcool ou outro combustível, similar àquelas gambiarras que utilizamos para esquentar marmita em lugares sem fogão.

A razão da não abordagem é porque manipular uma espiriteira pode se tornar um procedimento perigoso. Álcool que é o combustível mais utilizado para esse fim é um dos combustíveis que percentualmente mais provocam queimaduras em usuários. Além disso, a chama da espiriteira é fraca, inconstante e apaga-se com facilidade. Fora a sujeira absurda nos vasilhames. Então, sugerimos que se possível esqueça esse modelo de fogareiro!

Bons ventos!

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