A batalha Clássicos x Ultraleves

Necessário?


Desde há muito tempo não são poucas as mensagens que recebemos abordando a "batalha clássicos x ultralight". Dentre as muitas visões inteligentes a respeito do assunto também surgem ideias e opiniões depreciativas de ambos os lados. Inclusive com referências pessoais, o que nos causa perplexidade.

Por parte de adeptos do ultralight é comum se referirem a clássicos como ultrapassados e até mesmo ignorantes. Por parte dos clássicos a expressão "patrulha do ultralight" já virou um bordão... Ambos exemplos são apenas uma mostra do que ocorre em alguns grupos dedicados na internet. Algumas referências são obviamente impublicáveis...

Em meio a esse leva e traz, será que existe o "sabichão do pulo do gato"?

As origens

A prática do Trekking no modo clássico parece não ter geografia inicial. Indica ser resultado do gosto de ir para áreas naturais dispondo dos recursos que se tinha no momento; quase sempre equipamentos e materiais de uso comum no dia a dia.

É o que poderíamos afirmar como sendo parte da "origem das coisas" no mundo Trekking. Obviamente que isto resultou em embarcar rumo ao destino acondicionando num recipiente muitas tralhas, quase sempre muito pesadas e volumosas.

Já a prática do Trekking no modo light/ultralight é mais recente e obviamente tem origem no modo clássico. Surgiu com as travessias de longa distância em Norte América; uma vez que tornou-se necessário percorrer longas rotas em tempos ao menos razoáveis; algo desconfortável se efetivado com com mochilas pesadas.

Nestas condições, em que dias seguidos são cobertos por caminhada, a ideia é que quanto mais leve e menos volumoso seguir maiores serão as chances de sucessos. Para estes o fator peso-volume é decisivo; e suas reduções devem ser perseguidas ao máximo.

A Classificação

Dentre os vários aspectos que caracterizam e diferenciam as práticas, aquele que convenciona o peso como referencial parece ser o mais comum; ou mesmo o mais aceito entre os praticantes de Trekking. Há uma equação básica: menor peso também será menor o volume.

E para compreender isto é necessário abordar o que no Trekking denominamos peso base. O peso base seria a soma de todos os itens necessários durante uma realização, excetuando itens de consumo, como alimentação, combustível e água. Também entra na lista de exceções a vestimenta que está no corpo.

É importante salientar que essa denominação 'peso base' não é uma novidade apresentada pelo modo ultraleve; mas inerente à prática geral.

Desconhecendo o autor desta convenção, as faixas de peso base aproximadas e comumente apresentadas pela comunidade para classificar as práticas no Trekking seriam as seguintes:

  • Peso base acima de 9 kg seria Trekking Clássico (ou tradicional)
  • Peso base abaixo de 4,5 kg seria Trekking Ultralight
  • Peso base entre 4,5 kg e 9 kg seria o Trekking Light

A evolução

Para quem tem 10, 15 ou mais anos de vivência no mundo Trekking não será difícil compreender a tamanha evolução em equipamentos e materiais dedicados nesse período. Muito embora essa evolução seja mais antiga no exterior, isto chegou com destaque no Brasil, principalmente nos últimos 5/6 anos.

Há 10, 15 ou mais anos no Brasil as barracas eram imensas, pesadas e volumosas; mochilas eram como peças torturadoras; sacos de dormir praticamente não existiam, isolantes eram improvisados. Fogareiros eram trambolhos imensos, utensílios eram os comuns do dia a dia. Vestuário se assemelhava a roupa de guerra. Mas era o que havia na época; basicamente voltado para acampamentos estruturados.

Mas o atual mercado brasileiro já oferece produtos e materiais mais adequados para a prática do Trekking. Mesmo aqueles itens básicos e ainda fora da linha ultraleve encontram-se menos pesados e menos volumosos.

Isto quer dizer que, à medida que o tempo avança os fabricantes mesmo que lentamente 'empurram' todos os praticantes de Trekking cada vez mais próximo do Trekking light. De fato isto é significativo; e também positivo; pois é sabido que o excesso de peso prejudica sensivelmente uma atividade no meio natural, seja ela de longa ou curta duração.

Porque o ultraleve ainda não "pegou geral" no Brasil?

Se um peso menor é tão importante na prática do Trekking, é até curioso que o número de praticantes ultraleves no Brasil seja ainda pequeno. Até porque o fator peso é aquele do qual ouvimos maior número de reclamações no Trekking; chegando até a impedir a prática para alguns. Há várias explicações para isto; mas nos parece que dois aspectos sobressaem.

O primeiro aspecto é o econômico.

Itens ultraleves requerem qualidade superior e são em sua quase totalidade importados; portanto ainda muito caros frente a realidade brasileira. A maioria dos praticantes de Trekking não tem condições financeiras; ou não estão dispostos a investir maiores somas nestes produtos e materiais.

Embora alguns comparativos possam indicar certas similaridades em custos, fato é que a compra de itens mais técnicos no exterior ainda é uma barreira para muitos. E a produção nacional de equipamentos mais técnicos é incipiente e cara.

Por outro lado, apesar de crescente, a prática do Trekking no Brasil ainda é restrita e escassa. Por ano, o brasileiro médio passa poucos dias e noites caminhando ou acampando. E esse panorama resulta numa roda econômica que gira mais lentamente.

O segundo aspecto está ligado a mudança de hábito.

Se atualmente analisarmos a mochila de um caminhante médio brasileiro poderemos constatar que o peso base reduziu consideravelmente em relação a 10 ou 15 anos.

Porém nestas mesmas mochilas comumente encontraremos itens em excesso e até desnecessários para os objetivos propostos. Acrescenta a isto o excesso de alimentos; que embora não façam parte do chamado peso base concorrem para significativo aumento do peso total.

Felizmente ou infelizmente esse aspecto guarda variáveis inimagináveis; especialmente intangíveis. A mudança de hábito ou a sua adequação é um processo lento, e requer firme empenho e amadurecimento.

A importância da redução do peso e volume

Mesmo que não tenhamos o objetivo de vivenciar o mundo ultraleve, ou ainda que julguemos classificações como idiotices, buscar um peso e volumes adequados para a prática do Trekking é fundamental. Por peso e volumes adequados entendemos ser aqueles que não irão nos prejudicar decisivamente durante uma atividade.

Para tal, é altamente recomendável que racionalmente e de tempo em tempo revisemos os itens que farão parte das nossas jornadas. Excluir itens desnecessários, descartar embalagens, calcular tamanho e variedade de refeições; adequar vestuário conforme o clima a vivenciar; utilizar itens coringa são ações indispensáveis.

Não seria absurdo afirmar que, somente numa revisão básica como esta seria possível reduzir o peso/volume total da mochila em pelo menos 20%! Tudo isto sem perder nenhum conforto; ou correr riscos numa atividade.

Esta atitude revisional e periódica é indispensável, pois além de nos possibilitar eventuais itens novos e melhores, é sabido que o uso regular de mochilas com excesso de peso, quase sempre acima de 15/16 kg por exemplo podem resultar em sérios problemas de saúde a longo prazo.

Os fatores gosto e estilo pessoal

Basicamente o que definirá a manutenção, a migração ou a alternância para dado modo de Trekking é o gosto pessoal; aquele modo em que nos sentimos mais à vontade. Mas resumidamente há duas características que podem nos trazer seguras indicações:

  • Se o praticante realizar caminhadas esporádicas, como um fim de semana ao mês; percorrer menores distâncias diárias; apreciar por maior tempo os locais por onde passar; preferir acampar em pontos atrativos e atraentes, muito possivelmente o modo clássico; ou no máximo a 'ponta superior light' tenderá a lhe acompanhar.
  • Se o praticante realizar caminhadas frequentes, percorrer alongados trechos que obrigam a estar no meio natural por dias seguidos, procurando independência do local de pernoite; e sobretudo valorizar o rendimento é possível que atingir a faixa light e até mesmo a ultralight seria uma evolução natural.

Por fim, quem vence essa 'batalha'?

Tendo em mente que a escolha do título é meramente ilustrativa, é importante salientar que, embora a redução de peso e volume sejam fatores fundamentais para a prática mais proveitosa do Trekking, é evidente que a discussão de que um modo seja melhor que outro envolve elevada dose de bobagem.

O melhor modo para a prática do Trekking será sempre aquele em que o praticante se sinta mais confortável; e esteja aplicando do modo que julga lhe ser o mais proveitoso e conveniente.

Nós precisamos dar um basta em discussões inúteis; que apontam o dedo para este ou aquele praticante. Temos as mesmas origens e mantemos gostos e objetivos similares. Ademais, qualquer que seja o modo a praticar este não será perfeito!

O que nunca será de bom tom é partirmos para ações ridículas e extremas. Seja aquele sujeito que não abre mão de uma mochila de 90 litros para dois dias de caminhada; seja aquele sujeito que praticamente segue com as "mãos abanando" porque decretou que não se poderia ultrapassar dado quilograma mágico. É conveniente lembrar que as boas práticas, sejam quais forem nunca significaram irresponsabilidades.

Ademais sejamos francos! Ninguém é maior ou menor por percorrer dada rota em menor ou maior tempo. Tampouco é o maioral porque transforma rotas em desfiles de moda; ou realiza banquetes reais no meio do mato. Tudo isso soa infantil, maldoso e até desonesto. O que precisamos é menos radicalismos e mais receptividade!

O sujeito bom e adequado no mundo Trekking é aquele que com sabedoria consegue transitar com êxito dentro das suas reais capacidades, condições e preferências. Analisa de modo isento as possibilidades e sabe influenciar e contagiar pelas suas boas e flexíveis práticas; independente de qual seja o estilo empregado. O que esquecemos é que esse sujeito tem um segredo especial, que é saber respeitar as escolhas alheias. Este sim, é o estilo definitivo! Aprendamos com eles!


Observação:

Neste Blog temos por regra não incentivar debates inúteis. Essa postagem foi motivada por mensagens agressivas que recebemos por não vivenciarmos a prática ultralight.
 
Embora não demos valor algum a agressividades, uma dessas msg nos chamou a atenção pois se referia especificamente a uma postagem nossa, na qual apresentávamos dicas para aquisição de barracas.

Infelizmente o autor da mensagem, que foi anônima não atentou que a postagem referida foi publicada em meados do ano de 2013. Mesmo antiga, e embora novos materiais tenham se tornado mais acessíveis, acreditamos que esta postagem guarda fundamentos atualizados.

Ademais, é bem possível que no ano de 2013 o autor da msg anônima apenas engatinhava e vivia a leite e pera. Talvez ainda esteja nesse mundo de fantasia! Lamentável!

Tudo isso nos mostra o quanto ainda precisamos melhorar! Antecipadamente me desculpo pela franqueza.

Bons ventos!

Postar um comentário

Gostou? Deixe seu comentário, pergunta ou sugestão (0)

Postagem Anterior Próxima Postagem