Serra de São José: de Prados a Tiradentes

Mirante do Cruzeiro - Serra de São José
Localizada na região conhecida como Campos das Vertentes em Minas Gerais, a Serra de São José é um maciço de quartzito de mais de 10 km de extensão no sentido nordeste-sudoeste.

É rodeada pelos municípios de Prados, Tiradentes, São João Del Rei, Cel. Xavier Chaves e Santa Cuz de Minas. Ao percorrer a região é impossível não notar a imponente Serra emoldurando a paisagem.

E ao contrário, desde a sua cumeada é possível observar além de todas essas cidades e arredores, pontos mais distantes como a Serra da Lagoa Dourada e a porção oeste da Serra de Carrancas, Chapada das Perdizes e Abanador.

Rica em biodiversidade, é uma área de transição, mantendo características de mata atlântica em suas encostas e campos rupestres e cerrado nas suas elevações. Por tudo isso, um "pulinho" na São José é algo obrigatório a todo caminhante...

Relato Dia 1


Construção à beira da Estrada Parque que marca o início da trilha
Deixamos BH pouco depois das 4h00 do sábado dia 16 de abril e por volta de 7h00 adentramos no Bairro de Pinheiro Chagas, localizado na entrada da cidade de Prados.

Fomos direto para o Restaurante da Rosa ali mesmo na rua principal de acesso; onde tomamos nosso café da manhã.

Alimentados, às 7h30 reembarcamos e entramos à direita na rua em frente ao restaurante. Seguimos no sentido da Casa da Serra de São José, uma das sedes do IEF local e que cuida da APA da Serra de São José e da RVS Libélulas de São José.

Poucos metros adiante o casario do bairro ficou para trás. Passamos em frente a um reservatório da Copasa e metros adiante pela Casa da Serra de São José (IEF), ambos à margem direita da estrada.

Adentrávamos então na chamada Estrada Parque Passos dos Fundadores; que é uma antiga e apertada estradinha de terra que liga Prados a Bichinho (Distrito de Vitoriano Veloso) e Tiradentes.

Após 2 km pela estradinha desde Pinheiro Chagas chegamos em frente a uma casa de tijolo aparente construída ao lado direito da estrada. Era ali o início da nossa caminhada.

Rota realizada e disponibilizada no Wikiloc
Além de possibilitar estudar e visualizar a região, você poderá baixar este tracklog (necessário se cadastrar no Wikiloc); e inclusive utilizá-lo no seu GPS ou smartphone (necessário instalar aplicativo). Recomendamos que utilize esta rota como fonte complementar dos seus estudos. Procure sempre levar consigo croquis, mapas, bússola e outras anotações que possibilitem uma aventura mais segura. Melhor planejamento, melhor aproveitamento. Recomendável que leia este relato para melhor compreender esta rota.
Pratique a atividade aplicando os Princípios de Mínimo Impacto


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Poucos minutos antes das 8h00 vazamos por uma tronqueira de arame farpado que estava trancada e começamos nossa caminhada pela discreta trilha que segue pasto acima. O tempo estava parcialmente nublado e a temperatura muito agradável.

Após uma suave subida adentramos numa matinha, cruzamos um quebra corpo apertado e logo despontamos nas proximidades da antiga pedreira de Prados. Haja pedra no lugar; inclusive há uma pequena construção em rocha, à direita da trilha.

Vista desde o Mirante da Garganta do Diabo
Fomos subindo com calma, caminhando pela trilha de puro cascalho entre vegetação arbustiva, algumas lajes e vários degraus.

A trilha batida não tem erro: é só tocar pra cima; inclusive há algumas pequenas setas de madeira fixadas na vegetação que orientam a subida.

Às 8h40 chegamos em um Mirante, uma grota quase ao final da subida que alguns chamam Garganta do Diabo.

Trata-se de um despenhadeiro muito bonito, de onde se pode observar a densa vegetação no sopé da Serra e arredores; bem como parte da cumeada da Serra no sentido sudoeste. Breve parada para registros!

Retomamos a caminhada, subimos mais uns degraus em rocha e chegamos ao final da subida às 8h45. O visual do lugar impressiona. A típica vegetação rupestre com muitas canelas de ema torna tudo muito mais bonito! À leste a pequena cidade de Prados surge por completa, bem como no horizonte à nordeste destaca a Serra da Lagoa Dourada.

Nova parada para contemplação e algumas fotos. Retomamos a caminhada pela trilha em direção a um pequeno colo no alto da Serra. Passamos por uma placa de sinalização e chegamos às 9h10 à bifurcação de acesso à conhecida área de acampamento no alto da Serra pelas bandas de Prados.

Uma das várias facetas desde o Mirante do Cruzeiro: 
cumeada da Serra e Tiradentes lá longe...
Deixamos as mochilas na bifurcação de acesso e dirigimos ao amplo lugar, que é gramado, rodeado por rochas e relativamente bem abrigado.

Encontramos por ali, pendurado numa rocha, uma sacolinha de plástico com algumas embalagens de alimentos, bem como sinais de fogueira e fogo de chão e infelizmente algum lixo. Seguimos mais ao sul aonde há um Cruzeiro e um Mirante.

Permanecemos um bom tempo por lá, pois a vista é mesmo de cair o queixo. Destaque para Bichinho quase em frente, ao sul; e Tiradentes ainda bem distante à sudoeste, além é claro da exuberante vegetação na base da Serra.

A sequência dos picos da cumeada da Serra completam o visual, nos mostrando a direção e trechos por onde caminharíamos logo a seguir.

Desde o Mirante do Cruzeiro há uma opção de prosseguir a caminhada pela cumeada através de uma antiga e discreta trilha (inexistente em alguns trechos) que parte à direita do Cruzeiro e prossegue circulando e pulando rochas. Seria uma boa opção aventureira, mas estando em grupo e com cargueiras isto seria por demais cansativo.

Então, beirava às 9h40 quando retornamos às mochilas e tomamos a Trilha da Biquinha seguindo em declive no rumo norte. A Trilha da Biquinha é a rota mais usada para quem deseja ir apenas ao Mirante do Cruzeiro, cujo início é na da rodovia pouco antes do bairro de Pinheiro Chagas. É também utilizada como opção de contorno mais à nordeste para quem vai percorrer a travessia.

Já com as cargueiras nas costas passamos rente a uma cerca velha, cruzamos um pequeno charco de barro preto e pouco abaixo saímos da Trilha da Biquinha, tomando mais à esquerda, passando por uma saída de trilha entre rochas. Buscávamos um atalho para a descida da Serra em um platô logo abaixo das rochas.

A opção em tomar um atalho foi para ganhar tempo, pois o trecho até interceptar a trilha lá embaixo é curto, apesar de não existir trilha marcada no local. Então, do platô fomos descendo lentamente pulando lajes e desviando da vegetação mais alta. Às 10h00 vencemos a descida-atalho e chegamos até um mirrado curso de água, quando interceptamos os sinais da trilha do contorno.

Trecho percorrido: 
Vista da matinha ciliar aonde há uma boa fonte de água. 
Use purificador, pois há gado na região
Mais alguns poucos metros pela trilha e cruzamos mais um fio d'água que se juntará a outros. Correrão para o pequeno Cânion do Boqueirão, localizado algumas dezenas de metros abaixo de onde estávamos, no sentido norte.

Mas não era pra lá que iríamos; tomaríamos agora o predominante sentido sudoeste!

Então seguimos pela discreta trilha. Um pouco mais adiante tomamos a opção mais à direita; muito embora no trecho tanto faz; pois ambas irão se juntar novamente pouco acima da matinha ciliar a essa altura já visível.

Caminhamos mais alguns metros e chegamos às 10h15 a um rego d'água mais volumoso, rodeado pela pequena matinha ciliar.

Pulamos o rego d'água e fizemos uma parada para descanso e reabastecimento, porque somente voltaríamos a encontrar água bem mais tarde lá na região da Trilha do Carteiro, onde acamparíamos. Aproveitamos então para encher as panças e nos refrescar, afinal o sol já torrava nossas caras...

Um dos pontos mais bonitos de toda a Travessia
Por volta de 10h45 retomamos a caminhada por campos em suave aclive rumo à um colo localizado entre um morrote à direita e à vertente principal da Serra à esquerda. Isto nos levaria de volta à cumeada da Serra.

Logo acima identificamos uma apagada trilha e por ela fomos subindo, tendo o fio d'água à nossa esquerda no fundo do pequeno vale.

Trilha consolidada com o encontro da variante que sobe a margem direita do rego d'água, rapidamente despontamos em uma ampla área de campo baixo e passamos por uma curiosa formação rochosa à beira da trilha.

Uns 300 metros adiante ignoramos uma discreta saída à direita e chegamos a um ponto plano na cumeada da Serra. Trata-se de uma área de campo florido que considero uma das áreas mais bonitas de toda a travessia. É também um dos pontos mais altos da rota, se igualando à região do Mirante do Cruzeiro.

Mais uns metros adiante, nos deslocamos da trilha e às 11h15 chegamos a um mirante espetacular; um lugar pra se ficar horas e horas a contemplar a vista desimpedida praticamente em todas as direções...

A sequência da Serra, com o sopé por onde caminharíamos, 
e o trecho mais enjoado após o corte da Serra ao fundo
Por volta de 11h30 deixamos o mirante e retornamos à trilha, que agora em declive estava repleta de erosões. Topamos com um grande e vistoso rebanho de gado.

Caminhávamos então rumo a um vale, à direita-norte da cumeada principal da Serra. Passamos por uma cerca de pedra à nossa esquerda e seguimos sem erro pela trilha batida.

Mais adiante ignoramos mais uma discreta saída à direita, nos mantendo aos pés do morrote pela trilha no sentido sudoeste.

Passamos por uns trechos com uns degraus em rocha e pontualmente ao meio dia e sob um sol escaldante chegamos a um colo da cumeada. Por ser mais baixo, por ali há uma matinha (e uma saída noroeste), uma das raras sombras existentes na Serra de São José. Sem pensar muito nos estatelamos em busca de um longo descanso e refresco merecidos...

Somente às 12h40 deixamos a gostosa sombra para enfrentar o trecho mais enjoado da Travessia. Tomamos a trilha em curto, porém forte aclive novamente em direção à cumeada da Serra. A trilha nos levou mais à esquerda, quando percorremos à beira do precipício.

A trilha passa a uns dois metros da piramba. Adiante, vai se afastando da pirambeira e passa a percorrer um trecho de vegetação arbustiva bastante rebelde e espinhosa em alguns pontos. Em certos pontos a trilha parece sumir em meio aos blocos de pedra e a vegetação beira trilha aumentada.

Formações rochosas a cada olhar nos remetem a imagens diversas. Trecho muito bonito, mas que temos que prestar atenção para não perder a quase sumida passagem...

Um jardim no alto da serra
Voltamos a nos aproximar do precipício da Serra por um trecho de trilha mais aparente, para logo a frente despontarmos em um ponto também muito bonito, com visual de tirar o fôlego.

Os arredores pareciam um jardim, com áreas gramadas ou campo baixo e repletos de canteiros de sorocabas.

Área relativamente plana, seria um ótimo lugar para passar a noite, mas sabemos que por ali não há fonte de água. Então, parada apenas para contemplação e tocamos adiante.

Mirante Tiradentes
Prosseguimos em leve declive até chegar em um outro mirante, com a cidade de Tiradentes já bem próxima. Igualmente próximo já estava o corte da Serra aonde desembocam as Trilhas dos Escravos e Carteiro; bem como o trecho da Serra pós trilha do Carteiro. Tudo muito lindo de se ver...

Do mirante em diante o declive se acentua e a trilha pelo campo rupestre com alguns degraus nos levou diretamente ao encontro com a Trilha do Carteiro, aonde chegamos pontualmente às 14h00.

Túmulo do Carteiro - Foto do domingo
Interceptada a Trilha do Carteiro, por ali seria um outro bom lugar para armar acampamento, mas não estava nos nossos planos ir buscar água para higiene e consumo...

Então, tomamos a Trilha do Carteiro à direita, prosseguindo pela rota ampla e batida que segue em direção a um vale ao norte. Seria um desvio da nossa travessia para podermos passar a noite próximo à fonte de água.

Em poucos passos passamos pelo Mirante do Carteiro, lugar com linda vista! Breve parada e seguimos agora descendo por fragmentos de antigo calçamento, chegando rapidamente ao Túmulo do Carteiro.

Reza os contos antigos que quem passa pelo Túmulo do Carteiro deve jogar uma pedrinha no túmulo; e pelo que se vê, os caminhantes cumprem a regra, uma vez que o amontado de pequenas pedras só aumenta...

Cumprida a obrigação seguimos pela trilha batida em leve declive; para logo adiante tomarmos uma saída à esquerda, indo em direção às quedinhas da Gamelão, que ficam bem próximas à trilha principal. Marcava 14h30 quando botamos os pés no lugar, com os cocos rachando de tanto sol e calor...

Pocinho maior das Quedinhas da Gamelão
Era por ali, próximo ao curso d'água que passaríamos a noite. Mesmo sendo ainda cedo, o sol já se preparava para esconder, pois estávamos no fundo do vale. Tínhamos um morrote bem à nossa frente do outro lado do curso d'água da Gamelão.

Tratamos logo de armar as barracas para podermos tirar o sal do corpo nos pocinhos locais sob clima ainda tolerável.

A chamada Cachoeira do Gamelão é na verdade um lugar singelo. Não há cachoeira por ali, apenas um fraco curso d'água que, nos desníveis entre rochas acaba por formar alguns pequenos poços, daí o nome gamela.

Abaixo da Gamelão há outras quedas numa espécie de garganta. Embora maiores, na verdade são prejudicadas pelo quase sempre pouco volume de água. Por ali também segue uma trilha sudeste. Fomos pra água que estava gelada; e mesmo com o calor da pernada foi tenso entrar por ali...

Depois do banho e curtição no pocinho maior, o restante da tarde e princípio da noite foram dedicados aos 'trabalhos normais' de um acampamento natural... Presenciamos um belo por do sol e uma noite linda e estrelada!!!

Relato Dia 2


Amanhecer na Serra de São José
Alguns de nós acordou antes das 6h00 para curtir o nascer do sol. Para isso, deixamos o vale e fizemos o mesmo caminho do desvio feito na tarde anterior, chegando em pouco mais de 10 minutos no encontro da Trilha do Carteiro com a rota da Travessia.

Subimos até as rochas à direita no mesmo sentido da Travessia ainda a tempo de ver acesas as luzes de Tiradentes.

Em minutos o belo nascer do sol inundou de luz a Serra de São José e todo o Vale ao Sul... Valeu estar por ali, foi um lindo nascer do sol...

Em torno de 6h50 retornamos ao acampamento. Aí foi esperar o sol esquentar pra secar as barracas, ajeitar as tralhas e tomar o merecido café da manhã...

Tiradentes vista desde a cumeada da Serra
Tudo pronto, pouco antes das 9h00 deixamos o acampamento. Poderíamos tomar uma trilha alternativa que segue por campos e desembocará na cumeada da Serra lá no Mirante do Banquinho; mas nosso objetivo era toda a cumeada.

Então, retornamos novamente até o entroncamento da Trilha do Carteiro com a Rota da Travessia. Também ali poderíamos tomar a batida Trilha dos Escravos e tocarmos direto para Tiradentes.

Mas como dito, nossa rota era à sudoeste pela cumeada da Serra de São José. Tomamos então a trilha que sai pela direita e subimos novamente as rochas aonde havíamos estado para o nascer do sol. Um grupo de 5 jovens seguia a trilha poucos metros à nossa frente...

Seguimos a Trilha bem marcada que faz o contorno de um morrote e após um suave aclive se aproxima novamente da pirambeira da Serra. Trecho lindo, com muitas flores e rochas de variados formatos. Passamos por dois mirantes muito bonitos, com a cidade de Tiradentes praticamente ao alcance das mãos. Visual de encher os olhos...

Mirante do Banquinho
Seguindo a trilha, afastamos novamente da pirambeira da serra e ora caminhamos por campos. Passamos por um areal e logo adiante o ponto aonde a velha e alternativa trilha da Gamelão desemboca na trilha da Travessia.

Mais uns 300 metros e às 9h50 chegamos ao Mirante do Banquinho, onde há uma árvore destoante que proporciona uma merecida sombra aos caminhantes.

Como o nome sugere, o lugar tem até um banquinho estratégico, um convite ao descanso e à contemplação. Subindo as pequenas rochas atrás do banquinho há um outro belíssimo mirante de Tiradentes à beira do precipício. Pausa para descanso, lanche e muitas fotos...

Às 10h20 começamos a deixar o lugar. Poderíamos tomar a Trilha do Mangue, que segue à direita-noroeste e imediatamente descermos rumo ao vale do Mangue; mas nossa rota é pela cumeada da Serra. Assim, seguimos beirando o precipício da Serra de São José.

Agora a trilha é mais discreta e segue pelos campos rupestres sempre com visual aberto em todas as direções. Às 10h25 passamos por uma área com sinais de acampamento, onde curiosamente há um limoeiro.

Adiante em leve aclive passamos por restos de uma cerca de pedra à nossa esquerda. A trilha segue alternando trechos mais limpos com outros mais sujos, escondendo alguns degraus.

Pros lados de São João del Rei
Às 10h40 chegamos até um outro mirante de onde se tem boa vista de Santa Cruz de Minas e pras bandas de São João del Rei e Lenheiro. Imediatamente a trilha deixa a cumeada e segue em declive para a esquerda, atingindo uma região de platô abaixo da cumeada principal.

Com a vegetação beira trilha mais alta, e praticamente em nível passamos por alguns lajeados e algumas rochas curiosas.

Já no Vale do Mangue: Trilha da Água Santa
Por volta de 11h00 vencemos o trecho e chegamos até a extremidade sudoeste da Serra de São José, uma região com alguns pequenos charcos. Desse ponto já avistamos a Trilha da Água Santa ao norte. Iniciamos a descida da Serra pela trilha também tomando rumo norte.

O trecho é repleto de degraus e erosões, porém é curto. Em minutos chegamos ao Vale do Mangue, aonde há o encontro com a Trilha do Mangue que vem lá do Mirante do Banquinho. Lugar muito bonito, rodeado por morros, afloramentos e com vegetação de campos...

Cachoeirinha do Mangue
Tomamos então a trilha da margem direita do Córrego do Mangue em detrimento àquela que cruza o riacho. Ás 11h15 chegamos até uma porteira, interceptando a Trilha da Água Santa.

Antes de cruzar a porteira entramos à direita e metros abaixo chegamos ao Córrego do Mangue, um lugar agradável; com leito rochoso e com vários pocinhos rasos; ponto ideal para um refresco.

Por ali nos instalamos e tratamos de aproveitar o lugar, afinal o calor estava de matar... Cada um escolheu o que fazer, sendo que alguns desceram pela margem direita do córrego e foram até a quedinha maior do Mangue, a chamada Cachoeira do Mangue.

Curiosamente poucas pessoas estavam por lá naquele domingo calorento...

Por volta de 13h00 começamos a deixar o Mangue em direção à Tiradentes. Seguimos descendo suavemente através da trilha ampla e com fragmentos de antigo calçamento.

Às 13h10 chegamos a uma bifurcação quando tomamos a trilha da esquerda; pois a saída à direita segue para a Cachoeira Bom Despacho. Logo a trilha se nivela e entra em uma matinha, aliviando o calorão.

Passamos por um ponto de água, uma casa à nossa esquerda e alguns pontos de erosão onde se nota alguma tentativa em contê-las. Dali foi um pulo até chegarmos às 13h40 na antiga Estrada Tiradentes a São João del Rei, dando por encerrada a nossa Travessia da Serra de São José.

Matriz de Santo Antonio em Tiradentes
Paramos na rotatória em frente e contatei nosso resgate que não demorou a chegar. Tocamos para o centro da cidade e fomos almoçar em um restaurante ao lado da rodoviária.

Depois nos espalhamos pelas ruelas históricas da velha Tiradentes. Eu, Teresinha, Zé e Vanja corremos para a histórica e belíssima Matriz de Santo Antonio, uma construção do século XVIII e interiormente ornada com mais de 400 quilos de ouro. Impressiona a riqueza de detalhes da suntuosa matriz!

E não é que ao chegar no Templo fomos premiados com um 'concerto' do velho órgão de tubos existente na Matriz? Este órgão foi construído em Portugal em fins do século XVIII. Esteve parado por anos e foi restaurado em 2008. É um dos poucos exemplares do gênero no mundo!

Nossa presença coincidiu com a de um dos organistas da Matriz, que estava por ali 'ensaiando' para um concerto futuro... Segundo um funcionário da Matriz, algo raro em dias de domingo. Então fomos sortudos, espetacular estar naquele Templo e ouvir o som do histórico instrumento...

Até fiz um pequenino vídeo do momento e o publiquei. Resultado: o dito organista me retribuiu com um strike! Até pensei: será que ele não manuseia bem o instrumento? Vai saber...

Amigos da Trip no adro da Matriz de Santo Antonio 
em Tiradentes, tendo a Serra de São José ao fundo
Com o correr da hora, deixamos o Templo e já no adro aproveitamos para admirar a Serra de São José que acabávamos de percorrer de cabo a rabo: simplesmente lindona!

Lentamente fomos retornando para o estacionamento na rodoviária aonde se encontrava o nosso resgate.

Descendo a ladeira da Matriz ainda deu tempo de cruzar na rua com um belo gatão preto que me fez alguns gracejos...

Mais abaixo tomei um café às custas da Teresinha e alguns outros ainda foram ao chafariz da cidade para beber a água e garantir um retorno futuro ao lugar... 

Gatinho de Tiradentes
Pouco depois das 16h00 deixamos Tiradentes retornando a Belo Horizonte, aonde chegamos beirando às 20h00.

O fim de semana valeu a pena; e a Travessia da Serra de São José foi um sucesso, realizada com calma, sem correrias ou percalços; com tempo para curtir os lugares.

 Isto é importante porque trekking não se resume a apenas volume e passagem; mas sobretudo vivenciar um lugar, pois nunca saberemos quando n'ele voltaremos... Obrigado aos novos e velhos amigos pela companhia...

Serviço


A Serra de São José é um maciço de quartzito com aproximadamente 12 km em linha reta de uma ponta a outra, no sentido nordeste-sudoeste, com altitude máxima de aproximadamente 1.380m de altitude (não oficial).

Abrange áreas nos municípios de Prados, Tiradentes, São João del Rei, Santa Cruz de Minas e Coronel Xavier Chaves, na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais.

É uma área de transição, apresentando características de mata atlântica nos sopés e campos rupestres e cerrado nas elevações. Estas características torna a Serra de São José um refúgio de muitas espécies vegetais e animais; com destaque para as libélulas, concentrando metade das espécies encontradas em todo o Estado de Minas Gerais.

Visando preservar esta intensa e variada diversidade natural da região, existem a APA de São José e Reserva de Vida Silvestre Libélulas de São José. Administradas pelo IEF, encontram-se em implantação.

Em Prados já há uma casa-sede, conhecida como Casa da Serra, localizada às margens da Estrada Parque Passos dos Fundadores (Prados-Bichinho-Tiradentes), mais voltada para a vida silvestre.

Em Tiradentes há a Casa das Águas, localizada no Bairro de Águas Santas, voltada para aspectos geológicos da região.

Caminhada pela cumeada da Serra de São José em trecho de campos
Já a Travessia da Serra de São José possui aproximadamente 20 km de extensão, ligando Prados a Tiradentes pela cumeada da Serra.

Atingido o alto da Serra em Prados no Mirante do Cruzeiro, a trilha desce rumo norte em direção ao vale, para a seguir retornar à cumeada, percorrendo campos.

Segue alternando cumeada e platôs mais ao norte, até atingir o principal corte na Serra, onde cruza com as conhecidas Trilhas dos Escravos e Carteiro.

A alternância continua e prosseguirá até ao final da Serra, quando se junta a Trilha da Água Santa e da Cachoeira do Mangue. A rota percorre antigas trilhas, apresentando trechos ora batidos, ora mais discretos.

Caracteriza por aclives e declives, pouca sombra e pouca oferta de água. Possibilita visual desimpedido em vários pontos, pois vários são os seus mirantes, quase todos próximos à pirambeira sul da Serra.

Em Prados, o acesso à Serra de São José se dá por duas rotas principais: a Trilha da Biquinha, com início na rodovia Major Reginaldo Silva antes do Bairro de Pinheiro Chagas; e a Trilha da Antiga Pedreira, com início dentro do Bairro de Pinheiro Chagas.

No caso da rota Via Antiga Pedreira pode-se encurtar a caminhada em aproximadamente 2 km, desde que utilize automóvel do Bairro Pinheiro Chagas até o início da trilha, que fica na Estrada Parque Passos dos Fundadores. Particularmente, Chico Trekking prefere a trilha da Antiga Pedreira, pois possibilita visuais mais bonitos que aquela via Biquinha.

Já em Tiradentes, o principal acesso à Serra de São José é através da Trilha dos Escravos. Mas é importante salientar que este acesso não é o mais adequado para a completa Travessia da Serra. A opção seria a realização no formato inverso, iniciando a caminhada pela Trilha do Mangue; e então finalizando em Prados. 

Atrativos principais da Travessia


Ampla diversidade natural
Mirantes diversos
Fragmentos de antigo calçamento
Cachoeira e quedinhas do Mangue
Quedinhas do Gamelão
Túmulo do Carteiro

Locais indicados para acampamento natural


Mirante do Cruzeiro em Prados
Quedinhas da Gamelão

Quando ir


Melhor período é de abril a setembro, época mais seca na região.

Dias necessários para realização


2 dias com tempo para curtição; mas pode ser feita em apenas 1 dia

Distâncias aproximadas


Belo Horizonte a Prados: 182 km
Belo Horizonte a Tiradentes: 189 km
Bairro Pinheiro Chagas ao início da Trilha da Antiga Pedreira: 2 km

Hospitalidade


Prados
Restaurante da Rosa - Pinheiro Chagas → 32 99981-6993
Pousada Vivenda Letícia - Pinheiro Chagas → 32 3353-6437 - 3371-7474
Pousada Vista pra Serra - Pinheiro Chagas  → 32 3431-0936 - 3353-6843

Tiradentes
Restaurante Delícias → 32 3355-2166 - 8812-1197
Camping do Restaurante João Mineiro → 32 3355-2254
Camping Tiradentes → 32 3355-2828

► Pinheiro Chagas é um Bairro localizado na entrada da cidade de Prados. Vindo da rodovia BR 383, para chegar ao centro da cidade obrigatoriamente passará por este bairro. É o local mais próximo para o início da Travessia com rota pela Antiga Pedreira.
► Normalmente hospedagem em pousadas e hotéis em Tiradentes tem preços mais elevados, por isso não adicionei nenhuma referência por aqui. Muitas vezes, se necessário, hospedar-se em São João del Rei, que é a maior cidade da região, pode sair mais econômico. Ambas cidades estão muito próximas, inclusive com ligação via ônibus com grande frequência.

Como chegar e voltar - de ônibus

Cidade referência: Belo Horizonte
► Para origem de outras localidades tenham como referência a cidade de São João del Rei, que é cidade polo da região.

Ida: Viação Sandra até São João del Rei → Viação São Vicente (32 3371-7855) até Pinheiro Chagas / Prados

► Também é possível desembarcar no Trevo de Prados. Por ali aguardar o ônibus que vem de São João del Rei quando indo para Prados.
► Às noites de sextas e domingos há ônibus direto entre BH e Prados pela Viação Sandra

Volta: Empresa Vale do Ouro (32 3371-5119) até São João del Rei → Viação Sandra até Belo Horizonte

► O ônibus entre Tiradentes e São João é do tipo coletivo, com vários horários diários. De São João para Belho Horizonte há vários horários diários.
► Confira nas empresas horários e frequências para não ser surpreendido.

Como chegar e voltar - de carro

Cidade referência: Belo Horizonte

Ida: BR 040 até Conselheiro Lafaiete → BR 383 até altura do km 150, quando deverá entrar à esquerda pela rodovia Major Reginaldo Silva até o Bairro de Pinheiro Chagas na entrada da cidade de Prados.

Volta: Estrada Velha Tiradentes-São João del Rei até São João del Rei  → BR 383 até Conselheiro Lafaiete → BR 040 até Belo Horizonte

► Atente-se que início e final se dão em pontos distintos. Se programe!

Considerações Finais


► Trilhas: irregulares, com aclives, declives, presença de rochas e vegetação arbustiva e rebelde em vários pontos. Há pouquíssima sombra por toda a rota. A rota que sai diretamente do Mirante do Cruzeiro sem descer ao vale e que desembocará na rota principal nas proximidades do primeiro mirante é suja e fechada em vários pontos. Recomendável apenas para trekking de modo leve e por pessoas mais experientes.

► Acampamentos: há várias áreas propícias por toda a rota, porém quase todas sem presença de água. No acampamento do Mirante do Cruzeiro há água no ponto mais à nordeste, próximo a uma árvore grande, pouco abaixo da bifurcação de acesso. Porém, esta água pode desaparecer em períodos mais secos do ano. Nas proximidades das quedinhas da Gamelão há água, porém a área é de campos e irregular.

► Água: é prudente iniciar a trilha com aproximadamente 2 litros de água. A fonte presente nos arredores do acampamento do Mirante do Cruzeiro; e os dois regos d'água presentes na descida do atalho e junto à trilha de contorno, pouco acima do Cânion do Boqueirão podem secar no inverno. De modo mais seguro, restam apenas a fonte de água no fundo do vale acima do Boqueirão (fora da rota da trilha); as quedinhas da Gamelão e posteriores; e ao final, no córrego do Mangue. Utilize purificador.
►► Entre junho e setembro chove muito pouco na região; de modo que todas as fontes na serra praticamente desaparecem. Esteja atento a isso!

► Rotas de escape: Trilha dos Escravos, no corte principal da Serra. Há outras saídas para ambos os lados, mas nenhuma delas apresenta facilidade como a Trilha dos Escravos.

► Comunicações: há sinal de telefonia móvel por toda a cumeada da Serra.

► Mirantes: há vários deles por toda a rota. Muita cautela ao se aproximar dos paredões.

► Arredores: Visitando a região, se possível reserve um tempinho para conhecer as cidades de Prados, Tiradentes e São João del Rei, cidades com belas construções históricas e bom artesanato. Também em Prados, o Distrito de Vitoriano Veloso, popularmente conhecido como Bichinho é um lugar interessante.

► Carta Topográfica IBGE: Tiradentes


► Pratique a atividade aplicando os Princípios de Mínimo Impacto

Bons ventos!

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