Precisaremos de um SPC das Trilhas?

Restos de fogueira na Serra da Contagem; razão de recente irritação.
Difícil compreender a necessidade desse capricho...
O comportamento discutível e inapropriado de parte dos caminhantes e seus grupos pelas trilhas Brasil afora há muito tempo gera descontentamentos.

Parte considerável destes nos parece ainda não ter entendido o que é a prática do Mínimo Impacto junto ao Meio Natural. Será que para minimizar esse quadro teremos que criar um "SPC das Trilhas"?

É pública a nossa defesa favorável ao compartilhamento de informações como a grande mola propulsora do Montanhismo e das práticas de atividades ao ar livre.

Esse compartilhar de informações engloba dicas, relatos e imagens de atividades outdoor; incluindo também a publicização de rotas e tracklogs. Essas informações visam oferecer à comunidade não um elevar pessoal; mas sobretudo trazer à tona 'novos' atrativos e 'novas' opções de roteiros.

Com isso abre-se a possibilidade de desafogar aquelas rotas consagradas, tradicionalmente muito frequentadas; quase sempre com lotações esgotadas e graves consequências ao Meio Natural. Portanto, esse desafogar vai de encontro às boas práticas junto ao Meio Natural.

Assim, torna-se evidente que permanecem o nosso pensamento e intenção em compartilhar informações. Até porque com as ferramentas e aplicativos de mapeamentos hoje disponíveis, qualquer que se dedicar a estudar um pouco mais colherá informações preciosas.

Porém, especificamente no caso de rotas e tracklogs já finalizados, atualmente optamos por providencial cautela nas publicações. Olhar especial àquelas rotas que abordam locais mais próximos às áreas urbanizadas; ou áreas protegidas ainda não regulamentadas; ou ainda em áreas particulares cujos proprietários expressam contrários à prática.

A razão dessa atual cautela é porque temos recebido muitas mensagens de desacordo; em especial de proprietários rurais descontentes com as visitas de caminhantes em suas terras. São mensagens questionadoras e até reprimendas; que nos deixam desapontados e sem alternativas para tomadas de decisões. 

Diversos proprietários reclamam da conhecida sujeira deixada por deseducados; além da indiscrição e arrogância de parte dos caminhantes; quase sempre em grupos numerosos. Reclamam também de danos a cercas, porteiras e construções rurais; o não fechamento de porteiras e tronqueiras; e a realização de fogueiras. Tais situações tem aborrecido profundamente proprietários rurais, levando-os a se opor firmemente à passagem de caminhantes por suas terras.

Diante dessas reclamações, as quais sabemos são reais, nos resta apenas concordar. Simplesmente porque estão cobertos de muitas razões! Não queiramos saber como é custoso recolher sujeiras alheias; consertar cercas, porteiras e construções danificadas...

E mais ainda, ter gado "misturado" ou extraviado porque alguém simplesmente deixou porteiras abertas! E nem se fala o quanto é desagradável ter em suas terras grupos numerosos que gritam, cantam, tocam instrumentos e bebem como se estivessem num "luau de alguma praia mal frequentada"...

Já em relação à fogueiras, também temos que concordar. Devido ao seu potencial destrutivo, fogueiras deixam proprietários com os nervos a flor da pele. Ninguém deseja correr o risco de perder pastagens ou ser foco originário de algum incêndio!

Mas também há uma razão cultural e contrária à fogueira ainda mais significativa: Nas "roças", restos de fogueira indicam que alguém esteve "espionando" determinado terreno. E acredite, isto gera absurda contrariedade!

Toda essa coleção de desrespeitos de parcela dos caminhantes tem consequências danosas. Além de atingir diretamente os proprietários locais; para a comunidade do Montanhismo significa a perda de mais uma rota.

Excluindo raros casos de pura intransigência, somente na região mais ao Sul do Espinhaço nos últimos dois anos, pelo menos cinco opções de bonitas travessias estão "sob júdice". Não mais é possível realizá-las com o coração aberto e sem alguma preocupação de que a qualquer momento alguém possa nos interceptar...

Assim faço alguns apelos: Será que é possível realizar caminhadas em grupos menores e mais discretos? Será que é possível realizar caminhadas sem que deixemos lixo pelo caminho? Será que é possível lidar com nossos dejetos de modo adequado?

Será que é possível cruzarmos cercas e porteiras sem danificá-las? Será que é possível que fechemos todas as porteiras pelos caminhos? Será que é possível contornar nossos caprichos e ficarmos uma, duas ou três noites sem fogueiras?

Amigos, o que nos entristece ainda mais é que, por mais que escrevamos e alertemos sobre a necessidade das boas práticas junto ao meio natural parece que não somos ouvidos. Aqui mesmo no Blog junto aos relatos e rotas divulgados sempre procuramos lembrar que devemos praticar caminhadas sob a ótica do Mínimo Impacto. Mas o sujeito se aproxima, coleta informações, baixa a rota e nem se lembra de levar a sério o alerta; pois para ele isto faz parte do detestável termo "c* regras"!

E o pior de tudo é que, de um modo ou outro conseguimos identificar os baderneiros, pois por incrível que pareça, o "mundo das trilhas é um ovo": todo mundo conhece alguém, que conhece alguém e que conhece outro alguém que pratica a atividade. Como nos lembra a badalada modinha das redes, a "mão chega a tremer" pela vontade em marcar os sujeitos irresponsáveis travestidos de bons caminhantes e montanhistas!

Por tudo isso amigos, da mesma forma que anualmente são divulgadas as famosas listas sujas; sejam de empresas que utilizam trabalho escravo; grupos que poluem o meio ambiente etc; será que teremos que criar um SPC das Trilhas?

Sinceramente por mais absurdo que isto possa soar, seria tentador; até porque os sujeitos irresponsáveis são muito ativos; e nos parece que a única ação capaz de abalar essa gente do mal seria desmascará-las sem dó na internet... Lamentável!!! 

1 Comentários

  1. Caro leitor, com o encerramento do Google+ infelizmente perdemos preciosos comentários que enriqueciam ainda mais esse debate. Pedimos desculpas por isto!

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