Compartilhar Informações: Até quando isto continuará dividindo montanhistas?

Há aproximadamente vinte anos conseguir informações sobre alguma trilha ou sobre acessos a lugares remotos do interior do Brasil era uma verdadeira maratona. Internet não existia; telefone no interior não funcionava; cartas topográficas eram caríssimas e publicações do gênero eram raridades. GPS então era 'artigo' inimaginável...

Diante disso, muitas viagens eram feitas em completa escuridão. Eram efetivadas ali, no front, no dia a dia da empreitada.

Pouquíssimos aventureiros se dispunham a encarar perrengues nessas condições. E para piorar, a quase totalidade deles guardavam para si, dentro de sete chaves, as informações sobre seus roteiros e descobertas.

O tempo passou e quanto ao acesso o panorama começou a se modificar. Atualmente, desde o conforto do nosso lar podemos acessar uma enxurrada de "informações" sobre rotas e lugares do mundo inteiro.

Disseminou-se de tal modo que, na maioria das vezes tornou-se até trabalhoso realizar uma pesquisa e selecionar informações confiáveis... 

Porém uma coisa não mudou... De um lado vemos um grupo de praticantes que defendem e efetivam a divulgação das informações publicamente. Do outro lado vemos outro grupo que mesmo de forma discreta e pontual atua no modo inverso.

Estar em meio a esse fogo cruzado não é simples. Muitas vezes resulta em intrigas, acusações, egos inflados e mais uma penca de situações que só prejudicam o montanhismo!

O que nos motivou a abordar esse assunto foi uma série de mensagens, algumas anônimas, recebidas nesse curto período de vida desse Blog. Estas mensagens criticavam o fato de divulgarmos relatos de pernadas, alegando que isto poderia atrapalhar o trabalho de alguns guias; ou então, fazer com que um número maior de pessoas despreparadas resolvessem se aventurar por trilhas, deixando-as "farofadas", inseguras e deterioradas.

Manda a inteligência não responder mensagens anônimas, mas esse assunto nos incomodou, pois continua a retratar a velha divisão entre os montanhistas. Analisando o perfil obscuro dos autores contidos no interior das mensagens, concluí que algumas delas partiram de guias de aventuras; outras de reconhecidos pares montanhistas!

Pois bem, em resposta aos guias de aventuras preocupados em perder clientes, diríamos que isto não procede. E a razão é estatística, pois o número de brasileiros que optam por uma aventura guiada aumenta ano a ano no País.

Porém é um público exigente e bem informado. Apenas optam por não correr o risco de se perder por dias em dado lugar, principalmente porque possuem compromissos profissionais e o item segurança tem elevado peso em suas decisões.

Mas ao mesmo tempo não estão dispostos a pagar preços exorbitantes estipulados por agentes inescrupulosos; fatos que constatamos todos os dias por aí! Então, se há perda de clientes, isto é pontual e se deve muito mais à falta de profissionalização dos guias e promotores do que a simples leitura de um relato de aventura.

Quanto à possível deterioração de trilhas devido à presença de um maior público "farofa" também parece não proceder! De antemão deixamos claro que não agradamos do termo "farofa"; que é empregado para categorizar um grupo de pessoas mal educadas que teimam em emporcalhar a natureza! Na verdade, essa classificação só ajuda a instalar um clima pouco amistoso entre os visitantes de atrativos naturais.

É preciso esclarecer que comportamento inadequado na natureza é sobretudo uma questão de educação, haja visto que "rastros farofas" (lixo, por exemplo) são encontrados tanto em lugares acessíveis, que recebem elevado e diverso número de visitantes; quanto em lugares remotos e pouco visitados Brasil afora, que em tese só recebem visitas de montanhistas!

Quanto às erosões, isto seria natural com o tempo em qualquer trilha, mesmo sob baixa visitação. Caberiam aos órgãos públicos e privados responsáveis, clubes de montanhismo e a nós, montanhistas fazermos a sua recuperação e manutenção.

E será que estamos unidos e dispostos a arregaçar as mangas à esse ponto? Ou será que alegar erosão de trilhas seria apenas um pretexto, justamente uma prova da desunião, competição pessoal/grupal de aventureiros; e ineficiência de órgãos públicos e clubes/associações do meio?

Apesar do aumento constatado nos últimos anos, o número de praticantes de atividades outdoor no Brasil é ainda muito pequeno se comparado à população e à quantidade de atrativos naturais do País (leia aqui).

E para contribuir para o aumento dessas atividades sempre procuramos compartilhar informações, mesmo antes do boom da internet, visando sobretudo o despertar pelo gosto de se aventurar em meio à natureza!

Por outro lado, esclarecemos que um simples relato não pode servir como única fonte de uma atividade. Pode e deve ser um ponto de partida, uma mola propulsora, que naturalmente conduzirá o interessado à busca de informações mais completas. Até porque relato é temporal e seja ele de quem for, jamais será ou permanecerá 100% completo!

Por fim, não parece o momento para enumerar os benefícios do compartilhamento de informações, pois estes são amplamente conhecidos não somente no Montanhismo, mas em todas as áreas do conhecimento. Basta apenas respondermos àquela velha pergunta: "De que vale uma informação se morremos com ela"?

Desse modo, aquele que possui dada informação e evita a todo custo o seu compartilhamento com quem quer que seja; ou mesmo que venha publicar de forma misteriosa ou rabuscada; ou mesmo dificultando o acesso à informação, se iguala e se rebaixa ao nível dos sujões das trilhas; àqueles mesmos que cismam em taxar de "farofeiros"! 

Alguns podem alegar direitos autorais sobre certas informações. Sim, tem razão, mas para que serve a legislação sobre direito autoral? E o que dizer àqueles que simplesmente mercantilizam e tentam monopolizar uma rota, danificando sinalizações e trilhas, achando que com isso irão angariar mais clientes? E aqueles outros, que se julgam donos de uma montanha ou uma rota; e fazem malabarismos para evitar o acesso de outrem, visando simplesmente se gabar perante a comunidade?

Todos esses aspectos nos remete à necessidade de maior união e respeito entre os montanhistas. Abaixo o ego e aquela boba divisão entre os tipos praticantes! Ninguém de nós é proprietário supremo do saber!

O verdadeiro montanhista, independente se caminhante, escalador, ciclista, motociclista, guia de aventura... não sonega informações, não é arrogante, nem oportunista ou venenoso... Ao contrário, é um sujeito simples, humilde e solidário, características apreendidas da mãe natureza!

Quanto aos pensantes contrários, os respeitamos, mas torcemos para que tenham vida longa; o suficiente para compreenderem e experimentarem o verdadeiro espírito montanhista!

Bons ventos!

4 Comentários

  1. Prezado Chico,

    Parabéns pelo Post e pelo Blog.

    Hoje em dia não há como monopolizar informações, doa a quem doer.
    Vivemos na era da informação.
    Temos o direito à informação.
    Informação agora e sempre.

    Cabem às pessoas, organizações e/ou grupos contrários se adaptarem, pois caso contrário serão extintos.

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    1. Olá Emerson,
      Tudo bem contigo?

      Você disse tudo, vivemos em uma época em que tentar barrar informações é ir contra a maré... Mas pelo visto, temos alguns corajosos que pagam pra ver eheh...
      Oxalá compreendam a importância desse compartilhamento, não é mesmo?

      Grande abraço, obrigado pela visita e comentário; aliás, sou leitor do seu Blog há tempos eheh...



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  2. Respostas
    1. Valeu Loureiro,

      Há coisas que nos incomodam e assim sendo, melhor tocar no assunto, não é mesmo? Pelo menos clarifica de vez as coisas eheh

      Abração pra vc, obrigado por tudo mais uma vez!

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