Sacos de dormir: dicas básicas para não passar frio por aí...

Saco de dormir da linha Orbit, da Deuter.
Versátil para o clima brasileiro
Não faz muito tempo em que a hora de dormir em ambientes naturais poderia ser considerada como a hora do terror.

Primeiro porque naturalmente o ser humano não é tolerante ao frio; e em segundo porque não tínhamos disponíveis produtos adequados no mercado outdoor.

Mas esse tempo passou e hoje há uma gama variada de produtos que facilitam a vida noturna do aventureiro, tornando as noites mais prazerosas.

Dentre estas maravilhas, ter à disposição um saco de dormir (ou sleeping bag, em inglês) tornou-se uma obrigação.

Porém, nem sempre temos ideias formadas a respeito da aquisição de um bom saco de dormir. Muitas vezes investimos o nosso dinheirinho em produtos inadequados ou desnecessários.

Assim, resumidamente abordaremos neste post o básico que cada um de nós devemos saber para não errarmos nesta aquisição.

Tipos de sacos de dormir (SD)


Deixando as tecnicidades para os pesquisadores e afins, basicamente importa saber que há dois tipos de saco de dormir:

►Os de fibra sintética: são mais indicados para áreas tropicais, como o Brasil, que não apresenta temperaturas extremas habituais. Sacos de fibra sintética são também mais robustos; exigem menos cuidados; possuem secagem rápida e são mais baratos. Mesmo parcialmente molhados (não encharcados) podem desempenhar seu papel. 

►Os de pluma de ganso: são indicados para uso em alta montanha; lugares com temperaturas extremas e para o clima seco, como os Andes ou regiões subtropicais ou polares. Requerem cuidados específicos, dentre eles evitar a todo custo que se molhem, pois nesse caso perdem a função e levam dias para secar. Além disso, são mais caros e dependem diretamente das aves nórdicas!

Mas isto não quer dizer que não se poderia utilizar sacos de fibra em alta montanha; ou pluma de ganso no Brasil.

O fator que definirá essa escolha é a temperatura do lugar a ser visitado; dentre algumas condições físicas do usuário, como massa corporal e adaptabilidade. 

Faixas de temperatura


A principal referência para determinar as temperaturas dos sacos de dormir é a Norma Européia EN 13537 (Norma atualmente cancelada, substituída em 2016 pela norma ISO EN 23537:2016; não se aplica para usos específicos como uso militar; ou expedições para locais extremos; ou para bebês), resultada de testes laboratoriais aplicados em manequins simulando o corpo do homem e da mulher.

Para isto, considerou-se o homem padrão (25 anos, 1,73 de altura e 73 kg) e a mulher padrão (25 anos, 1,60 de altura e 60 kg). E as condições de clima também foram normais, isto é, sem componentes excessivos.

As faixas de temperaturas principais definidas pela Normatização Europeia e que nos interessa diretamente são as seguintes: 

Temperatura de conforto: mínima em que uma mulher padrão consegue dormir confortavelmente. 

Temperatura limite ou temperatura de transição: mínima em que um homem padrão consegue dormir confortavelmente. 

Temperatura extrema: faixa de temperatura em que uma mulher padrão sentirá forte sensação de frio. Há risco de danos à saúde, inclusive hipotermia. 

Evidente que testes laboratoriais não são dogmáticos, mas servem como orientação e referência; portanto devemos entendê-los a fim de não adquirirmos produtos inadequados.

Isto quer dizer que, se iremos à Serra do Cipó e posteriormente estaremos nos Andes, certamente não poderemos utilizar o mesmo saco de dormir, pois se tratam de regiões cujas temperaturas são totalmente diferentes! 

Mas na prática, como fica a Norma Europeia?


Sabemos que a normatização é uma referência importante. Diante disso, fatores climáticos locais e específicos, massa corporal, condições psicológicas e de adaptação devem ser confrontados com a normatização, pois sabemos que em ambientes naturais, nem sempre as condições homem/ambiente são estáveis.

Na prática, a normatização nos indica que, no ato da aquisição de um saco de dormir, devemos procurar por um produto que nos dê uma margem de segurança quanto à temperatura mínima da região a qual iremos utilizá-lo.

O parâmetro seguro é basearmos na temperatura de conforto para as mulheres; e na temperatura limite para os homens.

Segundo a norma europeia, esta diferença quanto ao gênero gira em torno de 5 graus celsius e deve-se a desigual massa corporal característica de cada gênero. Isto quer dizer que, em condições normais, as mulheres tendem a sentir mais frio que os homens.

As informações referentes à temperatura de conforto estão presentes nas embalagens dos produtos. Todos os bons fabricantes trazem estas informações com destaque.

Então, jamais deve-se adquirir um saco de dormir baseado na temperatura extrema; ou mesmo aqueles produtos que não possuem certificação alguma; que na prática são apenas edredons comuns. É sério, não coloque sua vida em risco, pois o frio é capaz de matar em poucas horas!

É possível melhorar a performance do saco de dormir?


Obviamente além da barraca, que tem como prima finalidade nos abrigar do vento e da chuva, o principal item que melhora a performance do saco de dormir é o isolante térmico.

Jamais podemos utilizar o saco de dormir sem a presença do isolante térmico. O isolante tem a função de evitar que o frio e umidade do solo invada o saco de dormir; bem como dificultar que o calor gerado pelo corpo e concentrado pelo saco de dormir escape para o solo.

Para que o isolante térmico funcione adequadamente e cumpra sua função, nos casos da utilização do isolante térmico de EVA, que é o mais comumente visto nas trilhas, o correto é utilizar a parte aluminizada para cima; e não o contrário. 

Além do isolante térmico, caso continuemos a sentir frio, podemos dormir vestidos com segunda pele; ou com calça ou blusa de fleece; ou ainda usando luvas, gorros, balaclava, meias etc.

Tecnicamente é sabido que perdemos calor pelas extremidades. Por isso, protegê-las pode-se obter excelente resultado!

Também podemos utilizar o liner, que é uma espécie de saco de tecido sintético, que apesar de fino, ajuda a segurar a temperatura interna do saco de dormir, bem como mantê-lo limpo. Mas atenção: não esperemos milagres dessa peça!

Se tanto o vestuário/liner, quanto o isolante térmico não forem suficientes para proporcionar conforto e manter a temperatura em nível satisfatório, também é possível utilizarmos cobertores de emergência para aumentar a proteção. Cobertores de emergência são aquelas mantas aluminizados, que são baratos, pouco volumosos e levíssimos! Para o frio devem ser utilizadas com o aluminizado voltado para o interior.

Mas devemos ter em mente que, excluindo o isolante térmico, o ideal para o uso de um saco de dormir é não termos a necessidade de dormir com roupas pesadas ou utilizarmos produtos emergenciais!

A melhoria da performance do saco de dormir é para situações pontuais e jamais podem ser rotineiras!

Assim, para não transformarmos o pontual em hábito, devemos pesquisar e nos informar sobre os níveis de temperatura a que estaremos sujeitos ao realizarmos uma atividade!

Frio mata, infelizmente, por isso nunca é demais sabermos sobre esse assunto e minimizar os riscos é sempre nossa obrigação!

Algumas dicas finais


► Ao contrário que a maioria de nós pensamos, sacos de dormir não geram calor. Sacos de dormir evitam que o calor gerado pelo nosso corpo se perca no ambiente; bem como minimiza a entrada de ar mais frio do ambiente para o espaço interno. Por isso, os melhores sacos são justos ao corpo; alguns até apresentam uma espécie de elástico que acompanham as curvas corporais.

► Ao se aventurar proteja o seu saco de dormir com saco estanque ou saco plástico. Apesar dos sacos de fibras sintéticas não perderem totalmente a função mesmo quando parcialmente molhados, tê-los nestas condição não é uma situação agradável.

Se molhados, certamente a capacidade da peça em manter a temperatura será menor; ou dependendo do estado e tamanho da área molhada, a peça poderá ficar provisoriamente inutilizada!

Já os sacos de pluma jamais devem ser molhados, pois poderão perder a função. Imaginemos uma pena molhada; ela se deforma totalmente e somente secará sob sol forte; e mesmo assim não voltará totalmente ao estado/forma anterior.

► Ao retornar de uma atividade exponha o saco de dormir ao sol para secar por completo. Guardá-lo molhado ou mesmo úmido pode significar a perda da peça! Além disso evita a presença de cheiros indesejáveis; 

► Fora das atividades procure guardar o saco de dormir sempre aberto, pois isto preserva as fibras do produto e evitam deformações ou vícios; 

► Sacos de dormir de fibra sintética podem e devem ser lavados sempre que necessário. Para limpeza, busque informações e orientações junto ao fabricante; 

► Sacos de dormir de pluma de ganso somente devem ser lavados em situações extremamente necessárias. Ideal seria que nunca fosse necessário lavá-los. Se necessário alguma limpeza, busque informações e orientações junto ao fabricante;

► Também devemos levar em consideração o volume e o peso do saco de dormir. Normalmente sacos de dormir de fibra sintética são mais pesados que aqueles de pluma de ganso. Porém, nem sempre a tese do quanto menos volumoso e menor pode ser aplicada a esse item. Ainda não se criou um modelo de saco de dormir que seja levíssimo, pouco volumoso e ao mesmo tempo eficiente a baixas temperaturas. 

► Quanto aos modelos, atualmente não seria indicado outro que não seja o tipo sarcófago; justamente porque os sarcófagos "colam" ao corpo, melhorando a performance.

Também é possível adquirir modelos que se "casam", isto é, sacos com o fechamento tanto do lado esquerdo quanto do lado direito, permitindo a união das unidades. Assim, resolve-se o problema dos parceiros que fazem questão de dormirem abraçadinhos mesmo quando estão se aventurando... 

► Falando em graus e para ser mais específico, é razoável afirmar que com um saco de dormir de fibra sintética na faixa de 0 grau de conforto é suficiente para circulação em qualquer região do Brasil.

► Fatores físicos individuais ou de qualidade do produto podem ser os motivadores do sentir frio, mesmo estando com um saco de dormir indicado para a temperatura a que se submete.

Uma das causas mais comuns dessa situação é o encostar-se mesmo que involuntariamente (ao dormir) na parede da barraca, provocando o umedecimento do sleeping. Para que isto não aconteça, sugerimos dividir as tralhas por ambos os lados da barraca ao dormir, formando uma espécie de barreira temporal. 

► A princípio pode parecer não ter nada a ver com o assunto, mas em trilhas, alimentar-se, hidratar-se e descansar adequadamente interferem no consumo de energia pelo nosso organismo, e por conseguinte, também interferem em nossa sensação de frio ou calor.

Por isso, encontrar o nosso equilíbrio nesses quesitos é importantíssimo e é condição fundamental para uma boa noite de sono!

Bons ventos!

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