Alto Palácio a Serra dos Alves: Travessia maiúscula pelo ParnaCipó!

Os campos do Espinhaço: terreno de incrível riqueza vegetal e animal
Com a chegada do Carnaval 2016 optamos por realizar a Travessia Alto Palácio a Serra dos Alves, a nova rota oficial no Parque Nacional da Serra do Cipó aberta à visitação pública em fins do ano passado (2015) dentro do Projeto Piloto de Travessias do Parque. 

Fomos o primeiro grupo de caminhantes a realizá-la de modo completo e sem percalços após a liberação da rota ao público. 

Inclusive a nossa realização serviu de base para iniciar ajustes na rota, algo comum e necessário quando se disponibiliza uma nova variante de trilha.

Com aproximadamente 40 km, esta Travessia liga a antiga e primeira sede do Parque Nacional ao arraial da Serra dos Alves. Através de antigas trilhas de época anterior à criação do Parque; mesclando com algumas adequações e trechos em fase inicial de pisoteio.

A rota percorre áreas dos municípios de Morro do Pilar, Itambé do Mato Dentro e Itabira, em Minas Gerais. Seu traçado oficial mantém direção norte-sul/sudeste, tendendo mais à extremidade leste da Unidade de Conservação, permitindo amplo visual do interior da Unidade. 

Animados com o retorno agora autorizado ao ParnaCipó, nossa programação incluía além da travessia em 3 dias e 2 noites, como recomenda a Unidade, um quarto dia nos arredores do arraial da Serra dos Alves dedicado à preguiça e curtição...

► Para saber mais informações sobre a Travessia Alto Palácio a Serra dos Alves clique AQUI

Atualização Agosto 2017: As reservas passaram a ser feitas através do ECOBOOKING

Rota realizada e disponibilizada no Wikiloc
Esta foi a primeira versão realizada logo após a liberação da travessia ao público. Ao longo do tempo a rota foi sofrendo alguns ajustes visando melhorias. Leia aqui no Blog as Informações sobre essa Travessia para melhor compreensão.
Além de possibilitar estudar e visualizar a região, você poderá baixar este tracklog (necessário se cadastrar no Wikiloc); e utilizá-lo no seu GPS ou smartphone (necessário instalar aplicativo). Recomendamos que utilize esta rota como fonte complementar dos seus estudos, pois o ParnaCipó disponibiliza também a rota, que é sempre ajustada conforme a necessidade. Procure sempre levar consigo croquis, mapas, bússola e outras anotações que possibilitem uma aventura mais segura. Melhor planejamento: Melhor aproveitamento.
Pratique a atividade aplicando os Princípios de Mínimo Impacto

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Relato Dia 1



"Nóis"
Início da Travessia. Sol escaldante do meio dia - Foto: Paulo Sergio
Deixamos BH na manhã do sábado de carnaval pouco depois das 8h00. Isto já era um considerável atraso em relação ao programado. 

Junta-se a esse atraso a lentidão do trânsito na absurda passagem pelo trecho urbano de Lagoa Santa; onde há mais de "1 milhão de quebra molas" infernizando a vida dos viajantes...

Fato é que somente às 11h20 desembarcamos na antiga sede do Alto Palácio do Parque Nacional da Serra do Cipó, no km 121 da rodovia MG 10.

Ao desembarcar às margens da rodovia, cruzei a porteira fechada do Parque e fui em direção à velha construção, antiga e primeira Sede do Parque Nacional da Serra do Cipó. Fui recebido apenas por agitados cachorros. Nenhum humano se encontrava por lá para eu apresentar a autorização da Travessia. 

Retornei à rodovia, ajeitamos nossas cargueiras e iniciamos nossa caminhada às 11h40. A regra dessa pernada era fazer todo o esforço para seguir fielmente a rota então informada pelo Parque Nacional.

No momento do início da pernada o sol estava para arrebentar mamonas. Suando em bicas, observei a vizinha Serra do Alto Palácio (IBGE) ao sul, constatando que três aventureiros viravam o conhecido ponto das antenas. Era pra lá que iríamos...

Vista Noroeste desde a cumeeira da Serra Alto Palácio: 
É possível observar o Cânion das Éguas
Como a porteira de arame da sede estava trancada, voltamos alguns metros pelo asfalto e vazamos pela cerca de arame que divide o Parque da rodovia, adentrando no beco da cerca. 

Tomamos a trilha marcada e rapidamente fomos ganhando altura pelo campo aberto, até chegarmos às antenas na Serra do Palácio. 

Prosseguimos pela trilha ora margeando; ora afastando da cerca limite do Parque. A rota jamais beira o despenhadeiro da Alto Palácio; se mantendo a algumas dezenas de metros inclusive do topo da Pedra do Elefante.

Pelo trecho na Serra do Alto Palácio galgamos alguns pequenos vales, cercas de arames e alguns pontos com resquício de água temporária, até que começamos a nos dirigir rumo à cabeceira norte do Cânion do Travessão. 

Este trecho percorrido sobre a cumeeira da Serra do Alto Palácio permite visual desimpedido em todas as direções. Destacam as áreas do Parque ao sul, onde caminharíamos nos próximos dias; e à noroeste a Serra da Lapinha com o inconfundível Pico do Breu.

Desapercebido e puxando a fila passei alguns metros do ponto de descida da Serra do Alto Palácio. Assim me mantive na trilha batida que segue em direção ao topo norte do Travessão. Fruto da falta de hábito em consultar a todo momento o GPS.  Além disso, não há marcação no ponto exato para descida. 

Percebida a falha, reagrupamos e voltamos alguns metros até o ponto indicado para a descida. Em torno de 13h20 iniciamos a descida rumo às pinturas rupestres que se localiza lá no fundo do vale à sudoeste. Passamos então a seguir apenas o traçado da rota e alguns pisoteios aleatórios.

Identificamos logo abaixo uma discreta estaca demarcadora da Travessia. Entre campos e rochas seguimos descendo pela encosta íngreme. Esta seria a maior e mais íngreme descida nesse primeiro dia de pernada! 

Aproximamos daqueles aventureiros que estavam à nossa frente. Chegamos então a um bom ponto de água. Reabastecemos e cruzamos o fio d'água seguindo o pisoteio. Novamente identifiquei que desviávamos novamente do traçado enviado pelo Parque.

Aproveitando o engano e a água próxima, fizemos então uma boa parada para descanso e lanche. Beirava 14h00 e o calor era sufocante!

Após o descanso voltamos à rota traçada, que margeia o rego d'água pela sua direita, para cruzá-lo logo abaixo já quase no plano. Poucos metros mais por campos e sinais de trilha antiga chegamos às pinturas rupestres às 14h20, aonde interceptamos a batida trilha que liga Duas Pontes ao Cânion do Travessão. 

Fizemos rápida parada apenas para apreciação das pinturas. Logo retomamos a conhecida trilha em declive rumo ao Travessão. A rota segue pela margem direita de um afluente do Córrego da Bocaina, que corre entre um fio de mata.

Logo abaixo, ignorando uma saída batida rumo à pirambeira, cruzamos o riacho junto ao ponto de encontro de outro afluente vindo do oeste. Seguimos então pela margem esquerda do riacho. 

Observamos os caminhantes que estavam à nossa frente fotografando na pirambeira da falsa chegada ao Travessão. Até perguntei se estavam lá por opção, uma vez que é comum erro nesse ponto. Disseram que não! 

Voltando à nossa vida, mais uns poucos passos e chegamos rapidamente ao Mirante do Travessão às 14h50. 

O Cânion do Travessão
O Mirante do Cânion do Travessão é daqueles lugares que merecem um dia inteiro de contemplação e exploração, tamanha é a sua beleza e imponência. À leste correm as águas da Bacia do Rio Doce; à Oeste as águas da Bacia do São Francisco. 

Paramos por lá um bom tempo, pouco abaixo daquele antigo sinal de acampamento; um mirante muito bonito.

Às 15h30 retomamos a pernada subindo pela antiga trilha que margeia o ribeirão do Peixe pela esquerda; o mesmo que correrá no fundo do Vale do Travessão. 

A vontade de permanecer por ali e nos refrescar nos pocinhos do Ribeirão do Peixe era grande. Porém o adiantado da hora não nos permitia esse luxo. Mesmo com o protesto de alguns amigos tratei de continuar a pernada, afinal tínhamos um bom trecho pela frente...

Quedinhas do Rio do Peixe e Travessão ao fundo - Foto: Myung Lee
Passamos pelo ponto de água no Peixe e alguns foram se refrescar rapidamente, inclusive com roupa e tudo... Nesse ponto há a opção de cruzar o riacho e seguir subindo pela sua margem direita. 

Nós porém continuamos à sua esquerda e viramos o cocuruto. Logo a seguir deixamos a trilha batida da antiga rota e cruzamos o riacho no sentido leste. Interceptamos então a antiga trilha na margem direita do Peixe.

Poucos metros adiante novamente cruzamos o riacho, voltando para a sua margem esquerda, mas mantendo a direção. Saímos em um trecho de campos e identificamos nova estaca de marcação de rota.

Seguimos em direção a uma capoeirinha, onde tivemos certa dificuldade para cruzar. Estávamos ligeiramente alguns metros acima do traçado e a vegetação arbustiva tinha muitos espinheiros. Sem retorno, abrimos passagem e emergimos do outro lado, aonde também identificamos outro marco sinalizador.

A partir desse ponto seguimos leve pisoteio pelos campos. Cruzamos alguns pontos úmidos e viramos uma garganta de morro pelo que parece ser uma rota de drenagem natural. Na sequência nos dirigimos em aclive cruzando os campos e seguindo o leve pisoteio. Demos uma guinada para o sul em um trecho com muitos afloramentos rochosos.

Caminhamos alguns metros em aclive e aproveitamos para um novo e merecido descanso às 16h50. O calor não dava trégua em nenhum momento! Porém o visual do trecho percorrido compensava o esforço; podendo observar principalmente a porção norte.

Vista para o norte desde o fim do aclive no primeiro dia:
Cabeceiras do Travessão e ao fundo Serras do Cipó e Lapinha
Passava das 17h15 quando retomamos a caminhada. Mais alguns lances de campos entre rochas e emergimos em aclive em uma ampla área de campo aberto. 

Com algumas paradas rápidas passamos pelo (agora antigo) ponto de saída para Cabeça de Boi à esquerda. Continuamos tocando rumo acima em direção ao topo do morrote, aonde chegamos pouco antes das 18h00, interceptando uma velha trilha.

Este é um ponto elevado que marca o fim do aclive do primeiro dia. O lugar permite belíssimo visual das cabeceiras do Travessão e do Vale da Bocaina e até das Serras do Cipó e Lapinha; uma imagem marcante daquela porção.

Como a parte mais difícil da pernada chegara ao fim, fizemos nova parada para descanso e agrupamento! Às 18h15 retomamos a caminhada, com o Lee seguindo na dianteira em companhia de mais alguns amigos.

Prosseguimos na trilha interceptada e iniciamos um longo trecho em declive. As porções nos arredores da região da Casa de Tábuas já são observadas, demonstrando que já nos aproximávamos do nosso objetivo.

A rota toma sentido sudeste e segue descendo em direção ao vale, percorrendo o velho sinal da trilha. Novamente em descuido passei o ponto em que se deve deixar a trilha mais batida que segue a leste e entrar à direita, a sudeste.

Percebido o engano, descemos e interceptamos uma trilha de vaca logo abaixo e por ela prosseguimos até próximo a uma região de capoeiras, conforme o traçado da rota.

Casa de Tábuas
Chegamos ao vale às 18h40, cruzamos um brejinho e um bom ponto de água em meio a arbustos e capins. Seguimos em direção à capoeira mais fechada, trecho um pouco confuso. 

Porém, ultrapassamos sem dificuldades. Cruzamos um rego d'água no meio da mata e fomos acompanhando o pisoteio entre a capoeira.

Não demorou e emergimos em nova área de campos já nos arredores da Casa de Tábuas, aonde chegamos às 19h10. 

A Casa de Tábuas não passa de um pequeno cômodo com uma varandinha em estado precário. Sinceramente me sinto mais seguro fora que dentro daquele espaço rico em insetos...

Por lá já encontramos os amigos que desceram na dianteira se instalando nas redondezas do velho Abrigo. Estava também no lugar um outro pequeno grupo de caminhantes, todos de BH. Aqueles que passamos lá no Travessão chegaram bem mais tarde, já no escuro da noite.

Enquanto os primeiros amigos armaram acampamento mais próximo ao ponto de água, nós outros retardatários armamos ao lado da trilha de saída para a Casa dos Currais.

O excesso de capim no lugar foi até favorável, formando um colchão embaixo da barraca. Já com o escuro da noite fomos ao córrego tomar banho, afinal o suor do dia tinha sido intenso.

Na volta alguns foram até o abrigo fazer janta. Eu preferi fazer na barraca mesmo. Depois ficamos proseando nas redondezas por algum tempo, observando a beleza do céu! Saiu cada história, daquelas de doer a barriga eheh... 

Por volta de 22h00 a cama nos chamou... Acordei pela madrugada com forte ventania. Isto não era agradável porque eu somente havia 'especado' o avanço da barraca. Mas voltei a dormir rapidamente pois o cansaço era grande...


Relato Dia 2


Mesmo com a neblina foi possível captar o "gadão" que
aproveitava o capim novo nas proximidades da Casa de Tábuas
O domingo de carnaval amanheceu parcialmente nublado e com uma fina neblina envolvendo a região da Casa de Tábuas. Esse fato é bastante comum naquela região; aliás, em toda parte alta do Espinhaço. 

Desarmamos acampamento, tomamos café e por volta de 8h50 iniciamos nossa caminhada rumo a Casa dos Currais. Os outros aventureiros que por lá estavam também deixaram o lugar no mesmo horário.

Em suave aclive e passando por cima de uma cobrinha assustada tomamos um rastro de trilha no sentido sudeste. A trilha contornou o fiapo de mata ciliar do córrego que desce aos fundos da Casa de Tábuas. Eram visíveis por todos os lados as marcas do grande incêndio ocorrido na área em 2015!

Prosseguimos agora sentido sul e em aclive. Passamos por um ponto de água temporária e avistamos nos campos adiante um grande rebanho de bovinos. Os arredores do ponto de água estavam repletos de pisotear do gado. 

Mais alguns metros em uma trilha de vaca. Mas logo a deixamos em favor de uma subida sem trilha definida, à direita de uma mancha de capoeira. Esse trecho é muito bonito, porém a neblina quis nos tapear...

Canelas de Ema bem crescidas
Ao chegar no 'topo' do morrote interceptamos nova trilha que imediatamente começou a descer suavemente entre novas manchas de capoeira. O visual continuava prejudicado devido a neblina. 

Começamos a margear enormes exemplares de canelas de ema às 9h15; onde paramos para registrar as raridades que passam de 2 metros de altura e troncos gigantes!

Na rota e em aclive nos dirigimos até uma mata mais densa na base de outro morrote. Por volta de 9h20 adentramos nesta capoeira, apesar do ponto exato se apresentar um tanto confuso; exigindo lutas contra cipós. 

Ao adentrar identificamos sinais de uma antiga e erodida trilha. Isto facilitou nosso deslocamento em diagonal. Em pouco tempo emergimos em campo aberto e rodeado por rochas; ainda por sinais de antiga trilha.

Cruzamos uma tronqueira e logo adiante nos dirigimos a um pequeno cocuruto com outros exemplares gigantes de canelas de ema. Era em torno de 9h45; o empo continuava sob neblina. Aproveitamos o lugar e fizemos mais uma parada para descanso. 

Nesse ponto o traçado passa abaixo do cocuruto, a poucos metros do nosso ponto de parada. Subimos o cocuruto para nos aproximar das gigantes canelas de ema. Já os três outros aventureiros que até então seguiam em meio ao nosso grupo tocaram adiante...

Subindo em direção ao ponto mais alto da Travessia
Por volta de 10h05 retomamos a caminhada. Passamos por um ponto de água temporária. Interceptamos restos de antiga trilha por alguns metros. 

Pouco depois deixamos esse rastro para subir um longo trecho em suave aclive em campo aberto. Isto nos levou em direção ao ponto mais elevado da Travessia, apesar da neblina prejudicar o visual.

Às 10h25 chegamos na base oeste do Pico do Curral. Cruzamos uma cerca e fizemos uma breve parada para reagrupamento. 

Com o calorão anunciando chegada, a neblina começou a dissipar pelo lado oeste, abrindo um visual de encher os olhos. Todo o vale aonde costumeiramente seguia a rota para a Serra dos Alves se abriu. A neblina deixava o vale e mil por hora; resultando num balé aos nossos olhos. Coisa linda!

Vista leste: Serra do Lobo em Cabeça de Boi
Reagrupados prosseguimos cortando o morro na diagonal sem trilha pisoteada e desviando de algumas rochas. Às 10h45 já havíamos contornado o Pico. Interceptamos uma nova trilha agora em um vasto campo aberto de capim dourado. 

Com o dissipar da neblina foi possível observar o topo do Pico do Curral ao norte que acabávamos de ultrapassar. À leste as Serras do Lobo e Linhares sorriam discretamente... 

À oeste a vastidão do interior do ParnaCipó com seus vales de campos entrecortados por formações rochosas e alguns fios de mata. O relevo permitia observar até as serras ao extremo sudoeste. 

À sudeste, aquela vastidão de campos emoldurados com alguns picos próximos e outros mais distantes, como o Pico da Dalina, Serra do Bongue e Alves. Uma beleza, que exigiu uma boa parada para fotos!

Ponto mais elevado da Travessia.
Ao fundo, Serra da Lapinha a kms ao norte
Retomados, prosseguimos por trilha entre campo. Quando estávamos na porção central do penúltimo pico no extremo leste, o traçado enviado pelo Parque nos mandou dar uma guinada à sudoeste. 

Com isso deixamos a trilha que seguia em direção ao interior e borda da Serra das Posses. 

Descemos curto trecho íngreme pelo campo; que não apresentava nenhum sinal de pisoteio. Seguimos em direção a uma cerca de arame no fundo do vale, aonde chegamos às 11h20. Esse ponto está na cabeceira das nascentes da Cachoeira das Posses.

Chegamos até uma cerca velha, que cruzamos. Imediatamente passamos a caminhar em aclive moderado. Fomos desviando das rochas e em alguns pontos também do traçado, escolhendo melhores passagens. Em torno de 11h30 atingimos o topo do morrote. 

O lugar é tão bonito que paramos para outro descanso! À essa altura a neblina já havia dissipado totalmente e o sol começava a arder nos cocos... O visual era amplo, permitindo ver até a Serra da Lapinha no longínquo quadrante norte!

Trecho de campos
Nas proximidades daquelas matinhas corre uma trilha oeste-leste.
Água somente após, numa região já bem próxima aos Currais
Por volta de 11h50 deixamos o lugar através de uma descida em zigue zague entre rochas e sem trilha pisoteada. Atingimos o fundo de um vale um pouco encharcado, mas sem água corrente. 

Imediatamente começamos nova subida um pouco mais acentuada, atingindo rapidamente o topo seguinte. Abriu-se então diante dos nossos olhos uma outra vasta área de campos. Uma beleza sem igual! 

Seguimos cortando a área de campos em leve declive, sem trilha pisoteada; mas mantendo o traçado sem dificuldades! 

À essa altura muitos de nós estávamos com pouca água. Sinceramente não esperava tamanha escassez de água no trecho. Isto porque vivenciamos um período bastante chuvoso recentemente. Além disso, em outras ocasiões que estive por aquelas bandas no verão sempre encontrei algum filete de água. Também esse era o indicativo da rota enviada pelo Parque!

Mas àquela altura era aguentar a malhação por falta de água. Juntamente à escassez de água somava o calor intenso e nenhuma sombra ao alcance dos olhos. Permanecer de olhos abertos só era possível porque o lugar era realmente muito belo!!! 

Interceptamos uma trilha vindo de noroeste e seguimos por ela por um longo trecho. À nossa direita (oeste) e mais ao fundo havia uma mata e certamente água, mas julguei não ser boa ideia ir até lá procurar. Assim prosseguimos pela trilha e mantendo o traçado, pois sabia que na rota adiante haveria água. 

Aproximando do último morrote na área de campos mantivemos o nível da trilha. Ao mesmo tempo vinha descendo o morrote que seguíamos pela base quatro caminhantes que faziam a rota contrária. Alguns de nós até quis saber sobre a presença de água. A resposta foi que estávamos próximos.

Pouco adiante deixamos a trilha e demos uma curta guinada sudoeste, indo em direção a uma cerca já avistada anteriormente. Passamos por uma pequena área úmida e aproximamos da cerca às 12h50, por onde há uma trilha oeste-leste e que leva até o topo da Cachoeira dos Borges. Observamos à leste e um pouco distante uma placa do Parque Nacional.

Casa dos Curais - Foto: Myung Lee
Apesar da sombra da mata próxima, tratamos de cruzar a cerca por uma abertura e seguimos sentido sul-sudoeste pela trilha marcada e em nível que margeia alguns capões de mato. 

Para a alegria de alguns mais sedentos, aproximamos então de um ponto de água. Deu pra coletar e matar a sede, mas pelo aspecto geral esta água é certamente temporária. Aproveitamos para nova parada para descanso.

Às 13h05 retomamos a caminhada e logo adiante passamos por uma saída que leva à Cachoeira do Bongue. Logo após cruzamos uma porteira. 

Poucos metros à frente passamos em um pontinha sobre um rego d'água com bastante lodo. Mais alguns metros e adentramos em uma mata atlântica às 13h25. Fato inusitado e surpreendente; aliás, um alívio encontrar esse trecho sombreado para fugir do sol que torrava nossos miolos!

Dentro da mata ignoramos logo adiante uma saída à direita, cruzamos mais um bom ponto de água. Pouco à frente emergimos em uma área de pasto já na direção oeste-noroeste, de onde já foi possível avistar o telhado da Casa do Currais. 

Bastaram mais alguns poucos passos e às 13h40 chegávamos à Casa dos currais, lugar do nosso pernoite..Por lá já estavam terminando o almoço os três aventureiros que nos deixaram descansando lá após a passagem na Mata das Flores.

Acamps na Casa dos Currais
Haviam quilos de carrapatos nesse gramado
A chegada logo cedo na Casa dos Currais foi oportuna. Armamos acampamento no campinho dos currais bem próximo ao Córrego Mutuca. 

Logo corremos pra lá para nos refrescar; quando os três aventureiros passaram em direção ao Tatinha. Eles estavam percorrendo outras rotas disponíveis a voluntários do ParnaCipó.

Naqueles dias havia um outro grupo de voluntários que pernoitou conosco lá na Casa de Tábuas. Eles fizeram um trajeto interior e chegaram pouco tempo após nossa chegada aos Currais. 

Depois do banho sem pressa ficamos papeando na Casa dos Currais. O Zé aprontou um almoço coletivo daqueles... Agora era só curtir a preguiça e esperar a noite chegar... Chegada a noit cada um procurou seu canto. O Lee, Marcus e Paula dormiram na casinha apesar da enorme armadeira que disseram apareceu por lá...


Relato Dia 3


Deixando a Casa dos Currais na segunda de Carnaval
Mimosas formavam o Bloco da Invasão.
Desfilavam tranquilamente na avenida ParnaCipó. Eram muitos...
A segunda de carnaval amanheceu com tempo aberto; mas logo a costumeira neblina deu as caras. Desmontamos acampamento sem pressa, pois pelos planos aquele seria um dia tranquilo. 

Por volta de 9h15 deixamos a Casa dos Currais, que estava rodeada por um outro grande rebanho de bovinos, certamente ávidos por sal. Por lá permaneceram outros aventureiros que iriam para a região da Braúnas.

Após uma seção de fotos seguimos em aclive pela trilha batida em direção à Serra dos Alves. A rota sentido sudeste segue por campos até se nivelar. É um trecho muito bonito. 

Serpenteando os campos se destaca bem à nossa frente o Pico da Dalina, com a Serra dos Alves à sudeste. Visual de encher os olhos. Após uma curva sentido sudoeste, o traçado oficial que seguíamos mandou deixar a trilha batida e seguir por campos à esquerda, caminhando sem trilha definida na direção de um pequeno vale.

Vista desde o Curral de Arame: 
Bandas de Cabeça de Boi, Linhares e Bongue
Desapercebidamente passei desse ponto, porém deixamos a trilha batida, cortamos caminho e interceptamos o traçado. 

Às 10h25 chegamos então a um ponto de água que parece ser temporário, ao lado de uma velha cerca de arame. Aproveitamos e fizemos uma parada para lanche e descanso. 

Às 10h50 retomamos a caminhada saindo da área do Parque Nacional e adentrando em terras pertencentes à Cia. Vale.

Logo adiante encontramos sinais de trilha de vaca, que em poucos metros nos levou a um curral de arame no topo do morrote. Visual amplo e muito bonito no sentido sul e agora nordeste, permitindo ver até pros lados de Cabeça de Boi. 

Tomamos então uma trilha batida que sai do curral e em declive interceptamos logo abaixo uma trilha que vem do oeste. Na verdade, essa trilha que vem do oeste é a mesma que deixamos lá em cima em obediência ao traçado da Travessia enviado pelo Parque.

Sinceramente fiquei sem entender isto, suponho que seja um atalho da época do levantamento de dados que permaneceu na rota informada (veja atualização abaixo). Na verdade, ao invés de se deslocar da trilha, é melhor nela se manter e fazer o contorno sul-leste, interceptando novamente a rota na altura do curral de arame; ou mesmo mais abaixo. É um pequeno trecho que não gera dúvidas!

► Atualização Junho 2016: O Parque Nacional da Serra do Cipó corrigiu esse trecho em desvio por área virgem que julguei estranho. Coincidindo com a minha opinião, o Parque manteve a rota consolidada no trecho, o que sem dúvidas foi a opção mais adequada.

Admirando a vista do Cânion Boca da Serra
Ao fundo, o Mirante da Serra dos Alves
Na continuação, sem erro e por trilha batida, com alguma erosão e em declive rapidamente chegamos nas cabeceiras do Cânion Boca da Serra. 

Desviamos da trilha batida e fomos ao mirante contemplar tamanha beleza. Resolvemos subir o morro mais alto ao lado do cânion, afinal estávamos com tempo de sobra.

Subimos sem dificuldades e às 11h35 já contemplávamos lá do alto o Cânion Boca da Serra, o Vale do Rio Tanque e a Serra dos Alves. Impossível não observar as marcas do grande incêndio que varreu a região da Serra dos Alves na calamitosa seca de 2015!!! 

Em torno de 12h00 descemos o morro e seguimos em direção à trilha batida em declive, interceptando a rota em poucos minutos. Passamos por uma destoante casa verde abandonada e por campo aberto logo abaixo chegamos à bifurcação que leva ao interior do Cânion Boca da Serra.

Cachoeira da Luci no Cânion Boca da Serra
Deixamos o traçado oficial da Travessia e adentramos pela bifurcação à direita, pois queríamos visitar a cachoeira da Luci. 

Adiante escondemos nossas cargueiras e continuamos pela trilha que beira uma ladeira, tendo à nossa frente os belos paredões do Cânion. Por volta de 12h50 já estávamos nos refrescando nas águas da Cachoeira da Luci. 

É uma cachoeira muito bonita e com um bom poço para banho. Foi renovador e os amigos se esbaldaram por lá. Com a chegada de mais pessoas ao lugar, por volta de 14h00 deixamos a Cachoeira da Luci pela mesma trilha da ida.

Pegamos as cargueiras escondidas no mato e continuamos a descida por trilha batida, voltando ao traçado oficial da Travessia. Passamos por um ponto de água e pontualmente às 14h30 chegamos à antiga Pousada da Luci; aonde pernoitaríamos.

►Aqui cabe uma explicação: A intenção inicial quando programamos essa travessia era pernoitar uma noite no arraial da Serra dos Alves logo após terminarmos o traçado da rota oficial em três dias. Assim, teríamos um quarto dia para visitar outros atrativos nos arredores. Infelizmente por ser carnaval não conseguimos contratar um lugar com preço razoável para nosso pernoite. Lamentavelmente os preços estavam fora do nosso alcance. Assim, desistimos do arraial da Serra dos Alves e acordamos que nosso pernoite seria nos arredores da antiga Pousada da Luci, mesmo sabendo que ali é terra da Vale! E assim foi feito!

A antiga pousada da Luci está desativada há algum tempo. É um imóvel pequeno para se chamar pousada, porém um recanto privilegiado. Ocorre que o terreno foi vendido para a Vale e as atividades foram encerradas. As cercanias estão bastante sujas, com capoeiras por todo lado! Adentramos no imóvel que se encontra em bom estado, porém com muita pichação. Por lá encontramos uma barraca armada em um cômodo.

Espalhamos nossas barracas pelas varandas e em alguns cômodos. Eu e a Teresinha armamos no gramado. Eu não gosto do cheiro de casa abandonada, me incomoda bastante! 

Enquanto armava acampamento, o Mateus foi ao ribeirão que corre nos fundos da antiga pousada e confirmou que o acesso à água estava relativamente limpo. Um problema a menos, pois estava calculando que precisávamos nos banhar lá na Cachoeira os Cristais.

Cachoeira dos Cristais
Após um lanchinho rápido, às 15h20 nos dirigimos leves à Cachoeira dos Cristais; exceto o Mateus. 

Tomamos a estradinha que leva para a Serra dos Alves e após suave declive entramos à esquerda por uma curta trilha na mata. Pronto, chegamos à cachoeira às 15h30. Por lá três rapazes também curtiam o poço principal.

A Cachoeira dos Cristais é uma bonita queda d'água com uns 6 metros de altura; além de um bom poço para banho. Em sua parte alta há alguns pequenos e rasos poços, excelentes para curtir a preguiça. 

Ribeirão acima há um outro pequeno poço e uma pequena queda. O problema é o sombreamento do lugar. Igualmente abaixo do poço principal: há um outro poço e corredeiras, também sombreados.

De um modo geral vale a pena visitar esta cachoeira; mas procure chegar entre 11 e 15 horas, quando o sol incide no poço. Por volta de 16h00 deixei a cachoeira juntamente com alguns amigos. Outros já haviam retornado, bem como outros somente retornaram mais tarde.

Já instalados na velha pousada, logo chegaram os rapazes que estavam lá na cachoeira. Eram eles os donos da barraca que já estava por lá quando chegamos. 

Permanecemos papeando na varanda dos fundos da velha pousada, quando foi observado próximo ao telhado uma baita cobra. Isto ocupou grande parte do assunto naquela tarde de ócio. Parecia ser uma caninana, que por lá deve ter passado a noite.

Deixando a cobra quieta, e aproximando a noite fomos ajeitar a nossa janta. Novamente o Zé agrupou mais alguns e fizeram um banquete rsrs... Eu jantei mais tarde, na barraca mesmo. Após, mais uns dedos de prosa e fomos deitar... Fez uma noite límpida, um céu escandalosamente bonito e nada de frio!!!


Relato Dia 4



Vista sul desde o Vale do Rio Tanque
Morro Redondo entre o morro sombreado e a árvore
Acordamos mais cedo no último dia da nossa aventura, afinal queríamos visitar a Cachoeira dos Marques lá na Serra dos Alves. Também precisávamos retornar a BH mais cedo, pois alguns amigos tinham viagem marcada para suas cidades no princípio daquela noite. 

Mesmo assim, até ajeitar as tralhas e guardar aquela barraca encharcada pelo sereno da noite límpida fez com que somente deixássemos o lugar às 7h50.

Tomamos a velha estradinha morro abaixo e às 8h05 passamos por uma porteira. Mais uns 5 minutos e passamos pelo acesso oficial à Cachoeira dos Cristais. 

O dia estava aberto e o sol novamente estava forte. Passamos por um bom ponto de água e continuamos a descida pela estradinha, que somente 4x4 pode romper! Passamos por mais um ponto de água com uma moita de bambu ao lado. Em torno de 8h30 desembocamos no vale do Rio Tanque.

Depois de atravessar a ponte pênsil. 
Esta ponte está em péssimo estado, inclusive faltando tábuas.
Em caso de chuva siga pela estrada como manda a rota oficial
Nesse ponto o traçado oficial da Travessia manda seguir à esquerda, cruzar o rio e interceptar a estradinha vicinal poucos metros adiante; tomando à direita sentido Serra dos Alves. 

Como estávamos apressados, preferimos tomar um atalho que desce margeando o rio pela sua direita. Em torno de 8h40 chegamos em uma área ampla e gramada, onde se vê à esquerda uma velha ponte pênsil cruzando o rio.

Chegamos à ponte e constatamos que a mesma encontra-se em estado precário, faltando inclusive algumas tábuas. Com cautela passamos um a um pela velha ponte! 

Poucos metros adiante interceptamos a estradinha vicinal. Tomamos a direita, passamos por algumas residências e subimos o último lance de estrada. Pontualmente às 9h10 botamos os pés dentro do Arraial da Serra dos Alves. Estava assim completada a Travessia Alto Palácio a Serra dos Alves!

A bonita capela de São José no Arraial da Serra dos Alves
Ainda neste dia, uma terça feira de carnaval, visitamos a Cachoeira dos Marques (leia o relato) e almoçamos no restaurante Casa da Fatinha no arraial da Serra dos Alves. 

Pouco depois das 15h20 deixamos o lugar retornando para Belo Horizonte, aonde chegamos por volta de 18h50, bem a tempo dos nossos amigos seguirem seus rumos.

Agradeço imensamente os novos e velhos amigos que toparam trocar a folia do carnaval por alguns dias no mato. 

Quanto à Travessia não há dúvidas que é uma pernada que vale a pena realizar. O Parque Nacional da Serra do Cipó é um dos mais bonitos do Brasil e merece os elogios pela abertura à visitação desta Travessia. Certamente esta rota já nasce obrigatória a todo montanhista!

Para saber mais sobre esta Travessia, como logística de ida e volta; como fazer a reserva no ParnaCipó, trajeto e baixar a rota para GPS, dentre outras dicas, visite a primeira postagem da série. Clique AQUI

Considerações Finais


► Para realizar a Travessia Alto Palácio a Serra dos Alves é necessário solicitar autorização ao Parque Nacional da Serra do Cipó, preferência com 15 dias de antecedência. Por hora a solicitação é feita através de e-mail diretamente na Unidade. No futuro, as reservas serão feitas em sistema on line. Para saber mais informações sobre a Travessia clique AQUI.

► Atualização Agosto 2017: As reservas para esta Travessia passaram a ser feitas através do ECOBOOKING

► É recomendável fazer a Travessia Alto Palácio a Serra dos Alves em 3 dias, conforme indicação do ParnaCipó. Desse modo há tempo suficiente para curtir, fotografar e descansar; enfim, sem correrias ou atropelos logísticos.

► Recomendo que faça a rota no sentido Norte-Sul, pois dessa forma poderá curtir cachoeira no último dia de pernada; além de caminhar por menores aclives por toda a rota.

► Procure começar mais cedo a pernada no primeiro dia, no máximo às 9h00 da manhã. Isto evita iniciar com sol forte no meio do dia, além de permitir por exemplo, uma parada nas quedinhas do Rio do Peixe junto ao Travessão.

► Acampamentos somente são permitidos na Casa de Tábuas e na Casa dos Currais.

► No trecho Tábuas-Currais há escassez de água. Abasteça na Casa de Tábuas.

► Na região da Serra dos Alves há algumas bonitas cachoeiras, como a dos Marques e a do Bongue. Há também o belo Mirante da Serra dos Alves, um lugar de fácil acesso e que vale a visita!

► É proibido camping no arraial e nos arredores da Serra dos Alves.

► No arraial da Serra dos Alves há muitas casas para locação. Também há pousada, bares, restaurante e mercearia; além de um espaço de venda de artesanato e lembranças locais. Não deixe de fotografar a histórica capelinha de São José ao centro do arraial.

 Poderíamos ter terminado a travessia no terceiro dia ainda cedo. Não fizemos porque não conseguimos fechar um local com preço justo no arraial da Serra dos Alves para passar a última noite; uma vez que queríamos ficar mais um dia por ali. E por ironia, o arraial estava relativamente vazio e pelo que observei na ocasião, muitos imóveis estavam fechados e sem clientela; ou seja, parece que os altos preços praticados no lugar no período do carnaval e a crise econômica instalada no País espantou muita gente! Isto é exemplo de uma realidade triste: estamos ainda longe de um turismo responsável e honesto!

► Para ler o relato da visita à Cachoeira dos Marques após a realização da Travessia clique AQUI

► Confira algumas Dicas Básicas de Segurança para a prática de Atividades Outdoor

► Pratique a atividade aplicando os Princípios de Mínimo Impacto

Bons ventos!

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